Um estudo encomendado pela Braskem e realizado pela consultoria ambiental Tetra Tech revela riscos crescentes relacionados ao afundamento do solo nas proximidades da Mina 18, localizada em Bebedouro, Maceió. O relatório, entregue à Agência Nacional de Mineração (ANM) em abril de 2025, foi tornado público graças à Lei de Acesso à Informação e destaca o impacto ambiental do colapso da mina, ocorrido em dezembro de 2023 na Laguna Mundaú.
Apesar de ter sido elaborado por uma empresa com renome técnico, a Tetra Tech, o estudo levanta questões sobre sua imparcialidade, já que foi contratado diretamente pela Braskem, potencial responsável pelo dano. A bióloga Neirevane Nunes, doutoranda na Unima e integrante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), aponta a necessidade de uma leitura crítica do relatório, destacando que ele não aborda adequadamente as implicações sociais para os moradores da área de risco e que usa termos vagos como "evento geológico" em vez de responsabilizar a mineração de sal-gema pela subsidência.
O relatório de 1.136 páginas descreve impactos significativos no meio físico e biológico, entre os quais:
Formação de uma depressão de mais de 30 metros de profundidade na Laguna Mundaú, alterando o regime hidrodinâmico e os padrões de sedimentação;
Conexão forçada entre aquíferos subterrâneos antes isolados, aumentando o risco de contaminação hídrica;
Degradação da qualidade da água subterrânea, com aumento de cloretos, sulfatos e salinidade;
Contaminação das águas superficiais e sedimentos da Laguna Mundaú com metais pesados e substâncias tóxicas;
Impacto sobre comunidades aquáticas, como caranguejos, camarões e moluscos.
Após o colapso da Mina 18, houve denúncias de mortes de peixes na região, o que levou a análises de água pela Ufal e pelo IMA, que não encontraram impactos ambientais relevantes associados à mineração, atribuindo as mortes à poluição histórica da lagoa. No entanto, a bióloga Neirevane discorda, afirmando que os novos estudos da Tetra Tech confirmam os impactos reais e significativos do evento.
A Braskem, em resposta, afirmou que o estudo técnico mostra que os impactos são limitados à área diretamente afetada pela cavidade da mina e que não houve impacto nas águas superficiais da laguna. A empresa garante estar cumprindo todas as obrigações legais estabelecidas pelos órgãos competentes, incluindo a entrega do diagnóstico à ANM, ao IMA e ao MPF.
A Defesa Civil de Maceió também informou que, embora tenha conhecimento do estudo, não o recebeu oficialmente, pois o monitoramento da água da Laguna Mundaú é responsabilidade de outras instituições.