A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, com início previsto para 1º de agosto, compromete seriamente as exportações de açúcar da Região Nordeste, segundo avaliação do empresário Renato Cunha, que preside a Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio) e o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE).
De acordo com Cunha, os produtores nordestinos exportam anualmente 155 mil toneladas de açúcar a granel para os EUA, dentro de uma cota com isenção tarifária que existe há mais de 50 anos. Embora esse volume represente uma pequena fração da produção regional — que gira em torno de 3,7 milhões de toneladas, cerca de 4% do total — ele tem importância estratégica, tanto pelo valor pago acima do mercado quanto pela previsibilidade que oferece ao setor.
“O ponto principal não é apenas o preço, mas a segurança nas vendas. Esses lotes são planejados com antecedência, produzidos e armazenados especificamente para atender a essa cota. Com a safra começando justamente agora, entre julho e setembro, mudar as regras no meio do processo é um grande prejuízo”, explica Cunha.
Ele lembra que a cota de exportação sempre teve alíquota zero, mas recentemente sofreu um aumento para 10%, já considerado impactante. Agora, com a elevação para 50%, o envio do produto se torna economicamente inviável. “Foi possível suportar o aumento anterior, apesar do impacto. Mas esse novo patamar simplesmente inviabiliza a operação”, afirma.
O sistema de cotas adotado pelos Estados Unidos prevê a compra de 1,1 milhão de toneladas de açúcar por ano, oriundas de 39 países, entre eles o Brasil. Segundo Cunha, os americanos têm a opção de substituir a cota brasileira por importações de outros países, mas para o setor açucareiro do Nordeste, a alternativa de venda a outros mercados não oferece as mesmas vantagens em termos de preço e estabilidade.
A estimativa é que o impacto anual da medida nas exportações de Pernambuco chegue a R$ 1 bilhão. O setor agora avalia os próximos passos, diante de um cenário de incertezas provocado pela nova política comercial dos EUA.