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Acidente
07/07/2025 04:00:00

Brics manifesta apoio ao Irã, critica políticas dos EUA, mas evita confronto direto com Trump

Brics manifesta apoio ao Irã, critica políticas dos EUA, mas evita confronto direto com Trump

Na declaração final da cúpula do Brics realizada no Rio de Janeiro, o grupo condenou os ataques contra o Irã, apontando violações ao direito internacional, mas sem citar diretamente os Estados Unidos ou Israel, numa tentativa de evitar tensões diretas com o presidente americano Donald Trump. O documento também faz críticas às políticas econômicas do novo governo republicano, como a imposição de tarifas comerciais, mas sem mencionar o país nominalmente.

O bloco reforçou a necessidade de regulação da inteligência artificial, indo contra a postura do governo Trump, que é contrário a esse tipo de medida. Além disso, reiterou o interesse em aumentar as trocas comerciais em moedas locais como alternativa ao dólar, embora a versão de 2025 tenha dado menos ênfase ao tema, após ameaças anteriores dos EUA de impor sanções aos países que seguissem por esse caminho.

Brasil garante apoio de China e Rússia à vaga no Conselho de Segurança

Durante a cúpula, o Brasil conquistou um avanço diplomático importante ao garantir a inclusão de seu nome, ao lado da Índia, como candidato a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. A menção, no entanto, foi limitada ao apoio de China e Rússia, sem incluir os demais integrantes do bloco. A África do Sul, que antes também era mencionada, ficou de fora do trecho, devido à resistência de novos membros africanos.

Críticas às tarifas e defesa do multilateralismo

A declaração condena o uso crescente de tarifas e barreiras comerciais, qualificando-as como disfarces para práticas protecionistas. Essa crítica ocorre em meio ao aumento das tensões comerciais desencadeadas por Trump desde abril, quando foram adotadas tarifas de até 100% sobre produtos de países como a China. O Brasil também foi alvo, com uma tarifa média de 10% sobre suas exportações para os EUA, mas ainda não retaliou.

O grupo defendeu o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio como espaço adequado para resolver disputas comerciais e alertou que medidas unilaterais ameaçam o comércio global.

Foco em financiamento em moedas locais

O uso de moedas nacionais nas transações do bloco foi retomado com cautela. O trecho da declaração que, em 2024, incentivava esse tipo de operação foi substituído por um foco nos financiamentos feitos em moedas locais por meio do Banco dos Brics (NDB). O presidente Lula destacou que 31% dos projetos financiados pelo banco já utilizam moedas nacionais, reduzindo a dependência do dólar.

Regulação da Inteligência Artificial ganha destaque

O Brics também reforçou seu compromisso com a regulação internacional da inteligência artificial, destacando a importância de mitigar riscos e garantir benefícios equitativos, especialmente para países em desenvolvimento. O texto defende o pagamento de direitos autorais por conteúdos usados em treinamentos de IA e o respeito à propriedade intelectual digital.

Essa posição contraria a política do governo Trump, que tem se posicionado contra qualquer regulação da inteligência artificial. Uma proposta de proibição de normas estaduais sobre o tema chegou a ser apresentada pelo presidente, mas foi rejeitada pelo Congresso dos EUA.

Condenação a ataques ao Irã, sem apontar culpados

O bloco condenou os bombardeios recentes ao Irã, ocorridos em junho e atribuídos aos Estados Unidos e Israel, classificando-os como violações ao direito internacional. No entanto, evitou nomear os responsáveis, em uma clara tentativa de não alimentar um confronto direto com Trump. Também manifestou preocupação com ataques a instalações nucleares civis e pediu que o Conselho de Segurança da ONU trate do tema com urgência.

Conflito em Gaza recebe críticas mais severas

O Brics ampliou suas críticas à atuação de Israel na Faixa de Gaza, dedicando quatro parágrafos ao tema. O grupo condenou o uso da fome como arma de guerra e reiterou seu apoio à criação de um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital. O Irã se opôs à inclusão da solução de dois Estados, mas não conseguiu alterar a posição tradicional do bloco.

Ucrânia é mencionada, mas Rússia não é criticada

A guerra na Ucrânia foi mencionada brevemente, como em declarações anteriores, sem críticas à Rússia. O texto apenas registra as posições nacionais de cada membro e menciona propostas de paz apresentadas por iniciativas africanas e pelo Grupo de Amigos pela Paz, do qual Brasil e China participam.

Rejeição a sanções unilaterais

O documento também criticou o uso de sanções sem autorização do Conselho de Segurança da ONU, afirmando que medidas unilaterais violam o direito internacional. A crítica atinge indiretamente os Estados Unidos e a União Europeia, que mantêm sanções contra Rússia e Irã, ambos membros do Brics.

Com esses posicionamentos, o Brics reafirma seu apoio ao multilateralismo e ao fortalecimento do Sul Global, mantendo uma postura crítica à hegemonia ocidental, mas adotando tom moderado para evitar atritos diretos com Washington.