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Acidente
06/07/2025 00:00:00

Narcotráfico agrava tensão com os EUA e põe em risco status da Colômbia no combate às drogas

Narcotráfico agrava tensão com os EUA e põe em risco status da Colômbia no combate às drogas

As relações entre os governos de Donald Trump e Gustavo Petro enfrentam um período de crescente tensão a poucos meses da decisão sobre a certificação da Colômbia como parceira na luta contra o narcotráfico. O país, historicamente um dos principais aliados dos Estados Unidos na América Latina, registrou no ano passado um aumento de 10% na área destinada ao cultivo de coca, totalizando 253 mil hectares — o suficiente para produzir mais de 2.600 toneladas de cocaína.

Apesar de ter recebido mais de US$ 10 bilhões em assistência americana desde o início do século, a Colômbia enfrenta atualmente um agravamento no cenário de segurança, com sequestros dobrando, assassinatos de agentes de segurança quase triplicando e o avanço de grupos criminosos em áreas anteriormente pacificadas. Esse contexto elevou a possibilidade de que, em setembro, os Estados Unidos retirem da Colômbia o reconhecimento como parceiro confiável no combate às drogas.

A crise se intensificou na última quinta-feira (3), quando o governo Trump convocou de volta seu principal enviado diplomático em Bogotá para consultas, alegando declarações “infundadas e repreensíveis” por parte do alto escalão colombiano. Em resposta, Petro também retirou seu representante. Para a cientista política Sandra Borda, da Universidad de los Andes, trata-se de uma medida de diplomacia preventiva.

As tensões são alimentadas pela estratégia de “paz total” adotada pelo presidente colombiano, que inclui negociações com grupos armados e criminosos e tem causado hesitação na extradição de narcotraficantes solicitados pelos EUA. Até agora, essa política não resultou em grandes desmobilizações, e cerca de 40% da população vê a insegurança e o tráfico como as principais ameaças do país.

Com a produção de cocaína atingindo níveis históricos, organizações como o Exército de Libertação Nacional (ELN) aproveitaram o cenário e consolidaram domínio em regiões estratégicas para o tráfico, como Catatumbo, na fronteira com a Venezuela. A proposta de Petro de pagar aos agricultores para substituírem a coca por culturas legais, como cacau e café, não tem avançado, agravando a desconfiança norte-americana.

Segundo Geoff Ramsey, do Atlantic Council, o relacionamento entre Washington e Bogotá se deteriora rapidamente. A situação piorou ainda mais com a denúncia do jornal El País, de que um ex-ministro de Petro teria discutido com integrantes do governo Trump um plano para derrubar o presidente colombiano. A renúncia da chanceler Laura Sarabia, na mesma semana, aprofundou o clima de instabilidade diplomática.

A possível descertificação da Colômbia a colocaria no mesmo grupo que Bolívia e Venezuela, países que perderam acesso a linhas de crédito e parte dos auxílios externos. Embora hoje os recursos americanos tenham menor peso na economia colombiana, a medida seria um golpe à imagem internacional do país. Internamente, porém, poderia alimentar a retórica anti-imperialista de Petro, especialmente com vistas às eleições presidenciais de junho de 2026, nas quais ele não poderá concorrer à reeleição.

Para Sandra Borda, se o governo colombiano agir rapidamente e apresentar resultados concretos na área de segurança, ainda há chance de evitar a perda do certificado. Já Ramsey é mais cético e acredita que uma reprimenda americana é praticamente inevitável. Segundo ele, Petro tenta responsabilizar os Estados Unidos por seus próprios erros, e a melhor postura para Washington seria expressar sua insatisfação mantendo, ao mesmo tempo, os canais diplomáticos abertos até a chegada de um novo governo colombiano.