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Mundo
05/07/2025 22:00:00

ONU alerta para risco real de colapso total da capital do Haiti diante do avanço de gangues

ONU alerta para risco real de colapso total da capital do Haiti diante do avanço de gangues

O Haiti enfrenta uma crise humanitária e de segurança sem precedentes, com a capital, Porto Príncipe, à beira de um colapso total. O alerta foi feito nesta quarta-feira (2) pelo secretário-geral-assistente da ONU para Assuntos Políticos, Miroslav Jenca, em reunião do Conselho de Segurança. Segundo ele, a violência de gangues tomou proporções alarmantes e ameaça destruir por completo a presença estatal no país.

Jenca afirmou que as gangues, além de controlarem amplamente Porto Príncipe, avançam para o norte do país. Recentes ataques a cidades como Mirebalais e La Chapelle demonstram a intenção dos criminosos de expandir sua área de atuação. Em La Chapelle, no departamento de Artibonite, um ataque em 22 de junho forçou o deslocamento de quase nove mil pessoas. O número de locais de abrigo improvisado cresce diariamente, com 1,3 milhão de haitianos já vivendo como deslocados internos.

Gangues usam drones e armamento militar para ampliar domínio

O oitavo relatório do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (Unodc), apresentado ao Conselho pela diretora-executiva Ghada Waly, revelou o uso crescente de armamento de uso militar e tecnologia de drones pelas gangues. Os criminosos utilizam drones para monitorar movimentos da polícia e manter o controle sobre territórios dominados.

Essa tática foi empregada, por exemplo, no ataque à Penitenciária de Mirebalais, em março deste ano, quando 529 presos de alta periculosidade fugiram. Em resposta, a chamada "Força-Tarefa" de Segurança Haitiana começou a utilizar drones e explosivos para tentar retomar o controle de áreas ocupadas por grupos armados.

A ONU alerta que o uso desses recursos em zonas densamente povoadas pode ampliar o número de vítimas civis, aumentando ainda mais a instabilidade social.

Missão liderada pelo Quênia enfrenta limitações e precisa de reforços

Mesmo após um ano da chegada da Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MSS), liderada pelo Quênia, a situação no país continua crítica. Segundo Jenca, a missão, junto à Polícia Nacional Haitiana, não conseguiu reestabelecer a autoridade estatal. A ONU insiste na necessidade de contribuições voluntárias ao Fundo Fiduciário da MSS para garantir a continuidade da operação.

O secretário-geral da ONU recomenda ainda a criação de um escritório permanente da organização no país, com foco em apoio logístico e operacional, para dar suporte ao esforço internacional de contenção da crise.

Violência em alta e população cada vez mais vulnerável

O Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti (Binuh) registrou, apenas neste ano, mais de 4 mil assassinatos — um aumento de 24% em relação a 2024. Entre as vítimas estão 376 mulheres, 21 meninas e 68 meninos. A violência sexual também teve crescimento acentuado, com 364 casos documentados entre março e abril, cometidos por gangues como forma de aterrorizar e controlar comunidades.

Transição política sob ameaça

O caos na segurança compromete diretamente o processo de transição política em curso no país. A ONU apoia a implementação do acordo firmado em abril de 2024, que prevê referendo constitucional e eleições gerais até fevereiro de 2026. No entanto, com o agravamento do cenário, a realização desse calendário democrático é cada vez mais incerta.

O Binuh tenta promover uma participação mais inclusiva nesse processo, com ênfase na inclusão de mulheres e jovens, mas sem a contenção da violência armada, a transição pode ser inviabilizada.

Sem apoio internacional mais robusto, alerta a ONU, o Haiti caminha para um colapso institucional completo, com consequências humanitárias ainda mais devastadoras para sua população.