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05/07/2025 17:00:00

Arquidiocese de Maceió negociou imóveis no fim da gestão de Dom Muniz, e transação entra na mira do Ministério Público

Arquidiocese de Maceió negociou imóveis no fim da gestão de Dom Muniz, e transação entra na mira do Ministério Público

A venda de imóveis da Arquidiocese de Maceió no encerramento da gestão de Dom Antônio Muniz está sendo investigada pelo Ministério Público de Alagoas (MP/AL). A operação envolveu duas casas localizadas na Avenida Tomás Espíndola, no bairro do Farol, uma área nobre da capital, e soma R$ 1,45 milhão. A transação, feita em março de 2024, foi concluída sem o conhecimento do atual arcebispo, Dom Beto Breis, e sem apresentação de prestação de contas.

A apuração do caso está sob responsabilidade do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), e ocorre sob sigilo. Segundo o promotor Napoleão Amaral Franco, coordenador do grupo, o inquérito busca apurar denúncias de irregularidades envolvendo a Arquidiocese e a Fundação Leobino e Adelaide Motta, vinculada à Igreja e gerida por Dom Muniz.

Certidões do 1º Cartório de Registro de Imóveis de Maceió comprovam a venda das casas de números 338 e 350, ambas localizadas de frente para a movimentada Avenida Tomás Espíndola, por R$ 800 mil e R$ 650 mil, respectivamente. Há ainda indícios de que um terceiro imóvel, o de número 346, também pertencia à Arquidiocese e pode ter sido incluído na negociação.

Os imóveis, atualmente reduzidos a um terreno baldio com mais de mil metros quadrados, foram vendidos à empresa Macro Empreendimentos, de propriedade do empresário Felipe Sarmento Cordeiro. A compra foi feita por meio da procuradora Andreia Lima Tocchio, no mesmo dia 25 de março de 2024.

Negociação suspeita e abaixo do valor de mercado

A venda causou estranheza pelo valor abaixo do mercado. Segundo um corretor de imóveis que conhecia a área e se interessava pela compra, o terreno, localizado em uma das regiões mais valorizadas de Maceió, valeria cerca de R$ 5 milhões. Ele suspeita que a venda tenha sido feita com objetivo de gerar “taxa de retorno” a representantes da Igreja envolvidos na negociação.

Esses imóveis estavam hipotecados desde 1981, devido a um empréstimo ao Banco do Brasil feito ainda na gestão de Dom Miguel Fenelon Câmara. A dívida, no entanto, foi quitada, e os imóveis liberados para alienação. A Arquidiocese não recebeu nenhuma prestação de contas sobre a venda por parte do então arcebispo Dom Muniz ou do padre Walfran Fonseca, considerado seu braço direito.

A atual administração da Cúria Metropolitana informou que ainda não tem como se posicionar sobre o caso, pois está passando por uma auditoria interna. Segundo a assessoria de comunicação da Arquidiocese, o momento é de levantamento e conferência de bens, e qualquer medida só será tomada após recebimento e análise da prestação de contas da gestão anterior.

Gaeco já ouviu testemunhas e recebeu documentos

O Gaeco confirma que diversas testemunhas já foram ouvidas e vários documentos recebidos, embora os detalhes não possam ser divulgados. A apuração tem foco em possíveis desvios de recursos ligados à venda dos imóveis da Igreja Católica e à atuação da Fundação Leobino e Adelaide Motta.

A investigação deve se aprofundar ainda sobre a possível inclusão do imóvel de número 346 na venda. O cartório se comprometeu a apresentar as certidões relacionadas a essa terceira casa até a próxima terça-feira (8), o que poderá esclarecer se o terreno inteiro foi negociado como parte da mesma operação.

Silêncio dos citados e expectativa por esclarecimentos

A reportagem da Tribuna Independente tentou contato com Dom Antônio Muniz e com o padre Walfran Fonseca, mas não obteve resposta. Ambos foram procurados por telefone e por mensagens, mas não se pronunciaram sobre a falta de prestação de contas ou sobre suspeitas de desvio de recursos.

O empresário Ronnie Mota, presidente do Instituto de Previdência de Maceió (Iprev) e também citado no processo, afirmou que ainda não foi notificado judicialmente e que só se manifestará após tomar conhecimento formal do conteúdo da ação.

O caso segue em apuração e pode ter novos desdobramentos nos próximos dias, à medida que a auditoria interna da Arquidiocese avance e os documentos pendentes sejam entregues ao Gaeco.