08/07/2025 08:03:16

Acidente
05/07/2025 14:00:00

Irã nos Brics: bloco evita condenações diretas e revela divisões sobre conflito com Israel e EUA

Irã nos Brics: bloco evita condenações diretas e revela divisões sobre conflito com Israel e EUA

A entrada do Irã no Brics em 2024, ao lado de outros novos membros como Egito e Emirados Árabes, ampliou o escopo geopolítico do grupo e introduziu tensões significativas, especialmente em meio ao agravamento do conflito entre Teerã, Israel e Estados Unidos. A crise recente, que incluiu ataques a instalações nucleares iranianas e uma resposta limitada por parte do Irã, levou o país persa a buscar uma nova declaração de apoio durante a cúpula do Brics marcada para este domingo (6) e segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva.

Entretanto, o posicionamento do bloco permanece contido. Embora tenha condenado os ataques sofridos pelo Irã como violações do direito internacional, a nota publicada em 24 de junho evitou mencionar nominalmente Israel e Estados Unidos, revelando uma tentativa de manter a neutralidade diante de divisões internas. A declaração também reiterou a necessidade de uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio, sinalizando preocupação com o programa nuclear iraniano, embora Teerã insista em seus fins pacíficos.

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Seyed Abbas Araghchi, participará da cúpula no lugar do presidente Masoud Pezeshkian, que cancelou sua vinda após a recente escalada. Fontes envolvidas nas negociações afirmam que o Irã se opõe agora à tradicional defesa, por parte do Brics, da solução de dois Estados no conflito Israel-Palestina, o que criou novos entraves para o texto final da cúpula.

Especialistas apontam que o apoio ao Irã no Brics é limitado, com países como Índia demonstrando resistência, já que mantém parceria militar com Israel. Para o pesquisador Oliver Stuenkel, da FGV, o bloco não tem capacidade para adotar posições geopolíticas radicais devido às divergências entre seus membros. Segundo ele, o Brics "não é um ator relevante" no conflito envolvendo o Irã, pois se trata de uma aliança mais política que institucional ou militar.

Rússia e a guerra na Ucrânia também dividem Brics

A situação do Irã não é isolada dentro do bloco. A Rússia, membro fundador do Brics, está envolvida há mais de três anos na guerra contra a Ucrânia. Apesar das duras críticas do Ocidente e sanções lideradas pelo G7, o Brics nunca condenou a invasão. Em suas declarações, limita-se a reafirmar os princípios da ONU e a destacar a necessidade de diálogo e diplomacia. Isso ocorre porque, como explica Stuenkel, os países do grupo têm poder de veto sobre os textos finais e dificilmente apoiariam declarações contra si próprios ou seus aliados.

A diferença de abordagem entre os conflitos é evidente: a cúpula do Brics em 2024 dedicou 16 linhas para criticar a ofensiva de Israel contra os palestinos, condenando mortes civis, deslocamentos forçados e destruição em Gaza e na Cisjordânia. Já a guerra da Ucrânia foi mencionada em apenas quatro linhas, sem apontar culpados, e lembrando apenas “as posições nacionais” dos membros.

Brasil entre a neutralidade e os desafios diplomáticos

A ampliação do Brics contrariou interesses do Brasil, que foi contra a entrada do Irã no grupo. A expansão foi promovida por China e Rússia, que desejavam fortalecer o bloco frente às potências ocidentais, o que, segundo analistas, enfraqueceu a posição do Brasil e de países com postura mais equilibrada, como Índia e África do Sul.

Para o governo Lula, a presidência do Brics ocorre em meio a desafios diplomáticos importantes, como a realização da COP 30 em Belém. Diante disso, o Brasil busca evitar que temas sensíveis, como os ataques ao Irã, dominem a cúpula. Um posicionamento enfático poderia gerar atritos com os Estados Unidos e comprometer negociações ambientais e comerciais.

Apesar disso, o Brasil continua a ver o Brics como um espaço estratégico para o diálogo com países de diferentes regiões. O ministro Mauro Vieira afirmou que o bloco é um ator essencial na defesa de um mundo multipolar e na luta por reformas na governança global, além de atuar em prol da sustentabilidade e do desenvolvimento.

Um bloco diverso, com divisões internas

Criado em 2009 por Brasil, Rússia, Índia e China (com a África do Sul entrando em 2011), o Brics se expandiu em 2024, passando de cinco para onze membros. No entanto, essa nova configuração trouxe desafios. As divergências sobre segurança, conflitos regionais e alianças internacionais ficaram mais evidentes, com o bloco dividido entre uma ala mais crítica ao Ocidente (Rússia, China, Irã) e outra que busca equilíbrio (Brasil, Índia, África do Sul).

Para analistas, o Brics segue sendo uma aliança útil para o Brasil, pois amplia o leque de diálogo diplomático e fortalece vínculos com nações estratégicas. Ainda assim, sua efetividade como força política ou de mediação global permanece limitada pela diversidade de seus membros e pela ausência de um compromisso com segurança coletiva.