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Mundo
30/06/2025 00:00:00

Leste Europeu planeja nova "cortina de ferro" contra Putin

Leste Europeu planeja nova

Cinco países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que fazem fronteira com a Rússia e Belarus – Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia – anunciaram planos de reforçar suas defesas fronteiriças com a instalação de minas terrestres, como resposta à ameaça militar representada por Moscou. Desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, essas nações já vinham investindo em barreiras físicas, vigilância e infraestrutura de defesa.

Agora, ao decidirem sair da Convenção de Ottawa, tratado internacional de 1997 que proíbe o uso, produção e transferência de minas antipessoais, esses países poderão retomar a fabricação e o armazenamento desses explosivos. A medida permitirá o uso imediato das minas em situações de emergência. A Noruega, única entre os vizinhos da Rússia na Otan, seguirá no acordo. A Ucrânia também sinalizou que pretende se desvincular do tratado.

O uso de minas terrestres, no entanto, é alvo de duras críticas. Segundo dados de 2023, quase 6 mil pessoas foram mortas ou feridas por esse tipo de armamento no mundo, sendo cerca de 80% civis, muitas vezes crianças. A remoção desses artefatos é perigosa, demorada e extremamente cara. A organização Handicap International contabiliza ao menos 58 países ou regiões ainda contaminados por minas, mesmo décadas após o fim dos conflitos.

A Convenção de Ottawa foi assinada por 164 países. Outros 33, entre eles Estados Unidos, China e Rússia, nunca aderiram. O Kremlin, inclusive, possui o maior estoque de minas antipessoais do planeta, estimado em 26 milhões de unidades – muitas das quais já vêm sendo utilizadas no território ucraniano.

A decisão dos cinco países da Otan está inserida em um plano mais amplo de dissuasão. Desde a Lapônia finlandesa até a província polonesa de Lublin, eles compartilham cerca de 3.500 quilômetros de fronteira com Rússia e Belarus. Trata-se, em sua maioria, de áreas de difícil acesso, cobertas por densas florestas, o que torna a vigilância ainda mais desafiadora.

Além das minas, estão sendo construídas ou reforçadas cercas, muros e sistemas modernos de vigilância. Os países também planejam a implantação de drones para monitoramento e defesa, o aprofundamento de canais de irrigação para servirem como trincheiras e o plantio estratégico de árvores para camuflagem em rotas importantes.

A imprensa internacional tem descrito esse projeto como uma nova "Cortina de Ferro", fazendo referência à antiga separação militar e ideológica da Guerra Fria entre o bloco soviético e o Ocidente.

A Lituânia, por exemplo, pretende investir cerca de 800 milhões de euros (aproximadamente R$ 5,1 bilhões) na produção de minas. O país considera sua posição geográfica particularmente frágil, especialmente por conta do Corredor de Suwalki – estreita faixa de terra entre o território bielorrusso e o exclave russo de Kaliningrado, que liga os países bálticos à Polônia e é considerado um ponto estratégico de defesa.

Apesar da justificativa de segurança, a proposta tem sido duramente criticada por entidades humanitárias. Eva Maria Fischer, da Handicap International, alerta que o uso de minas representa uma ameaça permanente para civis e o meio ambiente. Para ela, embora as preocupações dos países do Leste Europeu sejam compreensíveis diante do atual cenário geopolítico, recorrer a armamentos que continuam matando após o fim dos combates não é uma solução sustentável. Ela defende alternativas de defesa menos destrutivas e com menor impacto humano e ambiental a longo prazo.