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Mundo
29/06/2025 20:00:00

Por que líder supremo do Irã chefiará uma nação muito diferente quando sair do seu esconderijo

Por que líder supremo do Irã chefiará uma nação muito diferente quando sair do seu esconderijo

Após permanecer cerca de duas semanas escondido em um bunker em local desconhecido no Irã, durante o recente conflito com Israel, o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, pode usar o momento de trégua para retornar à esfera pública. Na última quinta-feira (26), ele apareceu em vídeo pela primeira vez desde os ataques realizados pelos Estados Unidos contra seu país, afirmando que as instalações nucleares atingidas não sofreram danos significativos.

Aos 86 anos, Khamenei ocupa o posto mais alto do Irã desde 1989. Durante o período de confrontos, acredita-se que ele tenha se mantido recluso por temer um atentado israelense, a ponto de não manter contato nem mesmo com os principais nomes do governo. O cessar-fogo, articulado entre o presidente americano Donald Trump e o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad al-Thani, não dissipou completamente o clima de tensão. Aparentemente, Trump teria recomendado a Israel que não eliminasse Khamenei, embora o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não tenha descartado essa possibilidade.

Ao retornar ao cenário político, o aiatolá encontrará um país devastado. Além de buscar reabilitar sua imagem, terá que lidar com uma nova realidade: a guerra enfraqueceu não apenas o Irã, mas também sua própria liderança.

Rumores sobre dissidentes no alto comando

Durante o confronto, Israel conquistou rapidamente o controle do espaço aéreo iraniano, bombardeando instalações militares e eliminando comandantes importantes das forças armadas e da Guarda Revolucionária. Ainda não se conhece a extensão dos danos, mas os ataques frequentes indicam uma redução significativa na capacidade bélica do país.

O programa nuclear iraniano, um dos pontos centrais da política do regime, rendeu ao país décadas de sanções internacionais e um alto custo financeiro. Agora, com as instalações danificadas, muitos se questionam sobre a eficácia de todo esse investimento.

O descontentamento popular cresce. Muitos iranianos atribuem diretamente a Khamenei a responsabilidade por ter conduzido o país ao confronto com Israel e os Estados Unidos, promovendo ideais como a destruição do Estado israelense, o que não encontra apoio entre boa parte da população. O isolamento econômico, causado pelas sanções, transformou um dos maiores exportadores de petróleo do mundo em uma nação fragilizada.

Especialistas apontam que o regime pode estar entrando em seus momentos finais. Para Lina Khatib, da Universidade Harvard, Khamenei poderá ser o último líder supremo do Irã no pleno sentido do cargo.

Com a guerra, também surgiram boatos de divergências internas. Uma agência semioficial iraniana relatou que antigas figuras do regime estariam pedindo a intervenção de estudiosos religiosos mais independentes, baseados na cidade sagrada de Qom, para alterar a liderança.

Para o professor Ali Ansari, da Universidade de St. Andrews, há claros sinais de tensão entre os líderes do país, somados a uma crescente insatisfação popular.

A raiva e a frustração irão aumentar

Durante o conflito, os iranianos demonstraram sentimentos ambíguos: por um lado, defenderam seu país; por outro, expressaram revolta contra o regime. Em várias regiões, principalmente nas mais afastadas das grandes cidades, houve manifestações de solidariedade entre civis, com apoio mútuo diante dos bombardeios. Comerciantes ofereceram produtos com desconto, e moradores ajudaram vizinhos.

No entanto, muitos também sabiam que uma eventual mudança de regime provocada por interferência estrangeira não seria bem recebida. Embora desejem transformações políticas, há resistência contra qualquer imposição vinda do exterior.

Khamenei, um dos líderes mais longevos em atividade no mundo, eliminou quase toda a oposição interna durante seu governo. Os opositores estão presos, exilados ou sem articulação suficiente para liderar uma alternativa viável. O colapso do regime poderia, até certo ponto, ser cogitado caso o conflito tivesse se prolongado. Contudo, muitos acreditam que o vazio de poder resultaria em caos e instabilidade, não em uma transição ordenada.

Segundo Lina Khatib, a oposição doméstica não tem força para derrubar o regime atual, que ainda mantém forte controle interno e tende a ampliar a repressão. Já foram registradas seis execuções nas últimas semanas, com acusações de espionagem para Israel. As autoridades alegam ter detido cerca de 700 suspeitos por esse mesmo motivo.

O temor agora é de que, humilhado pela guerra, o regime volte sua ira contra a própria população. Ansari acredita que, se o governo não conseguir garantir produtos e serviços básicos, o descontentamento aumentará ainda mais. Ele prevê uma evolução em etapas, e não uma mudança repentina após o fim dos ataques.

O cessar-fogo firmado em 23 de junho é visto com ceticismo dentro do Irã. Muitos acreditam que Israel ainda não concluiu suas ofensivas, especialmente por dominar o espaço aéreo do país.

Mísseis balísticos do Irã

Apesar dos bombardeios, parte das bases balísticas do Irã parecem ter permanecido intactas. Israel teve dificuldade em localizar esses locais, escondidos em túneis escavados nas montanhas. O chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, afirmou que, no início da ofensiva, o Irã possuía aproximadamente 2,5 mil mísseis. Desses, cerca de mil ainda estariam operacionais.

Esses armamentos causaram destruição em território israelense, o que preocupa autoridades de Tel Aviv, Washington e outras capitais. Existe a suspeita de que o Irã possa tentar, em breve, construir uma bomba nuclear, embora sempre tenha negado essa intenção.

As instalações nucleares iranianas teriam sido fortemente atingidas pelos ataques conjuntos dos Estados Unidos e de Israel. No entanto, o Irã alega ter transferido seu estoque de urânio enriquecido para um local seguro. Especialistas afirmam que, caso esse urânio — já enriquecido a 60% — seja elevado a 90%, o país teria material suficiente para fabricar até nove bombas.

Antes da guerra, Teerã anunciou a construção de uma nova usina de enriquecimento, cuja operação estaria próxima de começar. O Parlamento iraniano aprovou a redução drástica da colaboração com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Caso essa medida avance, o país pode se afastar definitivamente do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, abrindo caminho para a construção de armamentos atômicos.

Embora Khamenei pareça confiante de que seu governo resistiu à crise, sua idade avançada e estado de saúde fragilizado o colocam diante da urgência de planejar a sucessão. Ele pode buscar uma transição pacífica para outro clérigo influente ou até para um conselho de lideranças.

Ainda assim, os principais comandantes remanescentes da Guarda Revolucionária, fiéis ao líder supremo, devem continuar a influenciar os rumos do país nos bastidores do poder.