Um campo de lítio de alto valor, situado próximo à vila de Shevchenko, na região de Donetsk, foi capturado por forças russas nos últimos dias, conforme mostram mapas atualizados por grupos independentes que monitoram o conflito com base em imagens geolocalizadas. A ocupação do local ocorreu durante a ofensiva de verão da Rússia no leste da Ucrânia, onde Moscou vem avançando de forma constante. A informação foi divulgada pelo jornal The New York Times.
Embora cubra uma área de cerca de cem acres, o depósito é considerado um dos mais promissores do território ucraniano devido à elevada concentração de lítio no subsolo. O mineral é crucial para a fabricação de tecnologias modernas, especialmente baterias de veículos elétricos — item classificado pelo governo dos Estados Unidos como essencial à sua segurança econômica e estratégica.
A captura do campo representa um duro golpe para um recente acordo entre Ucrânia e Estados Unidos, que previa a criação de um fundo conjunto para estimular investimentos em projetos de mineração. O pacto garantiria a Washington acesso preferencial às reservas minerais da Ucrânia, vistas como uma alternativa estratégica à dominância chinesa nesse setor.
Mykhailo Zhernov, diretor da Critical Metals Corp — empresa americana que detinha a licença para exploração do depósito em Shevchenko —, alertou sobre os riscos diretos do avanço russo: “Se as tropas russas seguirem adiante e ocuparem mais territórios, controlarão uma fatia crescente dos depósitos minerais. Isso compromete o acordo firmado com os EUA.”
A ministra da Economia da Ucrânia, Yuliia Svyrydenko, responsável por assinar o pacto bilateral, não se pronunciou sobre a perda do depósito, o primeiro a ser tomado desde a formalização do acordo. Apesar da situação, o governo ucraniano aprovou recentemente os primeiros trâmites para abrir a reserva de Dobra, outro campo de lítio pertencente ao Estado, ao capital privado — uma tentativa de manter o plano de cooperação com investidores internacionais em andamento.
Ainda que empresas como a Critical Metals Corp mantenham o interesse na exploração das reservas ucranianas, analistas apontam obstáculos que vão desde regras de licenciamento complexas até a escassez de dados geológicos atualizados. Contudo, o fator mais crítico permanece sendo a presença militar russa, que já ocupa cerca de 20% do território ucraniano — área rica em recursos como titânio, urânio, manganês e, agora, lítio.
Mesmo contando com dois grandes depósitos de lítio fora das zonas de conflito, a perda do campo de Shevchenko — formado por espodumênio, uma das fontes mais puras do mineral — é considerada estratégica. A intenção russa de controlar esse recurso já era conhecida.
“Sabemos que este depósito tem grande relevância para a economia futura e apresenta enorme potencial”, afirmou em 2024 Vladimir Ezhikov, alto representante russo nomeado para atuar em Donetsk. “É certo que haverá um novo titular da licença. Investimentos e extração de lítio acontecerão.”