As primeiras bactérias com as quais entramos em contato logo após o nascimento podem desempenhar um papel essencial na proteção contra infecções graves na infância. Um estudo realizado por cientistas do Reino Unido mostrou que determinadas bactérias benéficas reduzem pela metade o risco de crianças pequenas serem internadas com infecções pulmonares.
Pesquisadores da University College London e do Sanger Institute analisaram as primeiras formas de colonização microbiana em recém-nascidos. Foram coletadas amostras de fezes de mais de mil bebês na primeira semana de vida e, por meio de uma análise genética completa, identificaram quais espécies estavam presentes. As crianças foram acompanhadas pelos dois anos seguintes com base em registros hospitalares.
Entre os microrganismos analisados, destacou-se a espécie Bifidobacterium longum, encontrada em bebês que apresentaram um risco significativamente menor de hospitalização por infecções respiratórias. Apenas 4% das crianças com essa bactéria precisaram de internação, enquanto entre as demais o risco era de duas a três vezes maior. Essa é a primeira evidência concreta de que o tipo de microbioma formado nos primeiros dias de vida influencia o risco de infecções.
Os pesquisadores acreditam que a Bifidobacterium longum atua ao interagir com o sistema imunológico, influenciando seu amadurecimento e a capacidade de distinguir ameaças reais. Essa bactéria começa sua ação digerindo o leite materno, que não só alimenta o bebê como também estimula o crescimento de bactérias benéficas.
Curiosamente, essa bactéria protetora só foi encontrada em bebês nascidos por parto normal, embora nem todos os nascidos dessa forma a possuíssem. Isso sugere que a origem da bactéria esteja ligada ao final do sistema digestivo da mãe, e não apenas ao canal de parto. Por isso, os cientistas não recomendam a prática da chamada semeadura vaginal, em que fluidos da mãe são transferidos ao bebê após cesarianas.
O objetivo futuro é criar terapias microbianas que orientem o desenvolvimento do microbioma dos recém-nascidos, como probióticos especialmente formulados para esse fim. Cesarianas continuam sendo essenciais em muitos casos e, segundo especialistas, o foco deve ser oferecer alternativas que promovam a saúde dos bebês, independentemente do tipo de parto.
Pesquisadores reforçam que mais estudos são necessários para entender todos os fatores que influenciam a formação do microbioma e seus efeitos na saúde infantil. Ainda assim, a descoberta representa um avanço importante na compreensão do papel das bactérias benéficas nos primeiros momentos de vida.