O inesperado anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na noite de segunda-feira (23), de um cessar-fogo entre Israel e Irã surpreendeu o mundo ao indicar que a ofensiva militar israelense contra instalações nucleares iranianas não resultaria, ao menos por ora, em uma guerra regional de grandes proporções. No entanto, a aparente trégua foi rapidamente abalada por novas acusações e ataques, expondo a fragilidade do acordo.
Conflito se intensifica horas após anúncio
Apesar da suspensão inicial das hostilidades, o clima de paz durou pouco. Ainda na madrugada de terça-feira, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, acusou Teerã de violar o cessar-fogo com novos lançamentos de mísseis — uma acusação negada prontamente pelo governo iraniano. Em resposta, caças israelenses atingiram uma estação de radar em território iraniano.
As novas investidas irritaram Trump, que criticou duramente os dois lados e advertiu Israel publicamente em suas redes sociais: "Israel, não jogue suas bombas. Se fizer isso, será uma grande violação. Traga seus pilotos para casa, agora!". Posteriormente, ao conversar com jornalistas, Trump reiterou sua frustração: "Não estou feliz com Israel. Não estou feliz com o Irã também, mas realmente não estou feliz com Israel. Israel tem de se acalmar". A fala teria surtido efeito, levando o governo de Netanyahu a cancelar um ataque mais amplo contra Teerã após conversa telefônica com o presidente americano.
Acordo segue nebuloso
Embora tanto Israel quanto o Irã tenham confirmado o pacto, seus termos exatos permanecem indefinidos. O que se sabe é que, segundo Trump, o Irã se comprometeria a cessar as hostilidades nas primeiras 12 horas, com Israel aderindo nas 12 horas seguintes. Após esse período de 24 horas, seria declarado oficialmente o fim da guerra, iniciada em 13 de junho com ataques israelenses a instalações nucleares iranianas.
Como o cessar-fogo foi alcançado
Fontes da Casa Branca e do jornal The Washington Post apontam que negociadores iranianos ofereceram aos EUA a possibilidade de retomar conversas sobre o programa nuclear, desde que os bombardeios israelenses fossem interrompidos. A mediação direta de Trump junto a Netanyahu teria garantido esse compromisso por parte de Israel.
Além dos esforços americanos, o Catar desempenhou papel decisivo na negociação, principalmente na comunicação com Teerã. O primeiro-ministro catariano, xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, assegurou a aceitação iraniana do cessar-fogo em uma ligação telefônica. Em reconhecimento, Trump agradeceu pessoalmente ao emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad al-Thani.
Segundo um alto funcionário americano, Israel aceitou interromper os ataques caso o Irã não retomasse sua ofensiva. O Irã, por sua vez, indicou que não lançaria novos mísseis, alegando estar debilitado após dias de bombardeios e perdas de figuras-chave, como cientistas nucleares e militares de alto escalão.
Negociações futuras ainda são incertas
Apesar do cessar-fogo, não há garantias de que novas negociações sobre o programa nuclear iraniano avancem. O Irã já afirmou que continuará seu programa atômico, mesmo após os ataques sofridos. O chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Mohammed Eslami, declarou que a produção nuclear seguirá normalmente, enquanto os danos às instalações ainda estão sendo avaliados.
Outra incógnita é o destino do estoque iraniano de urânio enriquecido, estimado em cerca de 400 quilos. Especialistas acreditam que parte significativa desse material pode ter escapado da destruição.
AIEA busca diálogo
O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, informou ter enviado uma carta ao chanceler iraniano, Abbas Araqchi, sugerindo uma reunião para retomar a cooperação nuclear com Teerã, que nega estar desenvolvendo armas nucleares. Já o vice-presidente dos EUA afirmou que o Irã esteve muito próximo de obter uma bomba, em declaração ao canal Fox News.
Trump justificou os bombardeios às instalações nucleares como uma medida preventiva para eliminar uma ameaça iminente, sem intenção de iniciar um conflito mais amplo. No entanto, agências de inteligência dos EUA haviam afirmado recentemente que o Irã não estava fabricando uma arma nuclear — avaliação que, segundo fontes da Reuters, ainda não mudou.
Assim, apesar da trégua, a tensão entre os dois países e a incerteza quanto ao futuro do programa nuclear iraniano continuam alimentando dúvidas sobre a durabilidade do cessar-fogo e a possibilidade de uma solução diplomática.