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Acidente
24/06/2025 16:00:00

Por que Trump optou por deter a ofensiva contra o Irã após ataque a base americana

Por que Trump optou por deter a ofensiva contra o Irã após ataque a base americana

Após dias de escalada militar entre Israel, Irã e, mais recentemente, os Estados Unidos, o presidente Donald Trump anunciou na noite de segunda-feira (23/6) um cessar-fogo “completo e total” entre os dois rivais do Oriente Médio. A decisão surpreendeu parte da comunidade internacional, sobretudo por ocorrer poucas horas após mísseis iranianos atingirem bases americanas no Catar — ataque que não deixou vítimas.

Trump afirmou nas redes sociais que o conflito, que chamou de “a guerra dos 12 dias”, se encerraria em “aproximadamente seis horas”, com ambos os lados interrompendo suas ações militares. Embora o Irã tenha atacado instalações militares americanas em retaliação aos bombardeios dos EUA a locais estratégicos, como a central nuclear de Fordo, Trump considerou a resposta de Teerã como “muito fraca”, destacando que quase todos os mísseis foram interceptados e que o Irã havia fornecido um aviso prévio — o que evitou mortes, como já havia ocorrido em 2020 em episódio semelhante.

Essa avaliação de que o ataque iraniano foi “calculado” e simbólico, feita também por analistas como Frank Gardner, da BBC, sinalizou para Trump que Teerã não buscava escalar o conflito. Ao mesmo tempo, pressões internas influenciaram sua decisão. Figuras proeminentes da ala mais radical do trumpismo, como Steve Bannon, são contra o envolvimento direto dos EUA em conflitos internacionais, defendendo uma postura isolacionista. A oposição democrata e até parlamentares republicanos também questionaram a legalidade dos ataques ordenados por Trump sem aprovação do Congresso, forçando o presidente a justificar, por escrito, que a ação teve “escopo e propósito limitados”.

Outro fator decisivo foi o risco de que uma escalada resultasse em uma “guerra eterna”, como explicou o cientista político Hussein Kalout. Segundo ele, uma ofensiva americana para derrubar o regime iraniano implicaria um conflito duradouro, com grande mobilização de tropas e risco de envolver potências como Rússia e China — ambas aliadas estratégicas do Irã e contrárias aos bombardeios dos EUA.

Além disso, o Irã ameaçava reagir em outra frente: o Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial. Uma possível tentativa de fechar essa rota causaria um colapso nos mercados globais de energia. Embora analistas como Roberto Abdenur considerem improvável que Teerã vá tão longe — por também prejudicar seus aliados e parceiros comerciais, como a China —, a ameaça em si aumentou a pressão pela contenção do conflito.

Trump também demonstrou insatisfação com Israel, criticando os ataques persistentes mesmo após o início das negociações por cessar-fogo. Segundo ele, “Israel também violou” o pacto informal.

Na avaliação de Ellie Geranmayeh, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, ao tentar eliminar a ameaça nuclear iraniana, Trump pode ter alcançado o efeito oposto: fortalecer a disposição do Irã em avançar secretamente com seu programa atômico como forma de dissuasão. Mesmo com a trégua declarada, o clima entre as potências segue altamente instável, e a retomada das hostilidades permanece como um risco latente.