Uma investigação conduzida pela rede Radio Free Europe (RFE) revelou novos detalhes sobre os assassinatos deliberados de civis por tropas russas na cidade de Bucha, na Ucrânia, durante a ocupação da rua Yablonska, em março de 2022. Utilizando imagens de drones, gravações de câmeras de segurança e documentos militares deixados para trás, o levantamento mostra que o massacre foi planejado e sistemático, contrariando alegações do governo russo de que os crimes seriam encenações.
A cidade de Bucha, na região de Kiev, tornou-se símbolo da violência da invasão russa após a retirada das tropas no final de março de 2022. De acordo com a RFE, foi em 3 de março daquele ano que a 234ª Brigada Aerotransportada de Pskov assumiu o controle da rua Yablonska, localizada em uma posição estratégica entre Irpin e a capital ucraniana. Ao invés de enfrentamentos com forças armadas locais, os soldados passaram a executar moradores desarmados.
Entre as vítimas está Valeriy Kizilov, de 69 anos, morto no quintal de sua casa após deixar o abrigo onde se escondia com a esposa. Imagens feitas por drones mostram seu corpo caído e um soldado russo apontando uma arma para a viúva, Lyudmyla Kizilova, ainda escondida. “Era inconcebível pensar que simplesmente matariam as pessoas assim”, relatou a sobrevivente.
Outra cena chocante flagrada por câmeras mostra um carro alvejado por tiros ao tentar fugir da região. No veículo estavam Ivanna Hrabovlyak, seu pai Mykhaylo, a companheira dele, Yulia, e a filha Sasha. Mykhaylo foi morto ao volante. Ivanna e Sasha conseguiram escapar, mas a criança perdeu um braço, que teve de ser amputado. “Ouço Sasha gritando. Ela não conseguia levantar o braço”, lembrou Ivanna.
A partir de perfis em redes sociais e registros militares abandonados, a investigação identificou soldados envolvidos nos crimes. Um dos nomes apontados é o do sargento Vladimir Borzunov, de 25 anos, que ao ser contatado por telefone respondeu friamente: “Eu me importo? Não me importo.” Também foi citado o tenente Artyom Tareyev, comandante da unidade de reconhecimento suspeita de executar Valeriy Kizilov. Comunicações interceptadas ligam codinomes de oficiais de alta patente às ordens dadas para as execuções.
As imagens dos corpos abandonados nas ruas de Bucha, divulgadas após a retirada russa, provocaram forte comoção internacional. O presidente Vladimir Putin negou envolvimento e alegou que tudo não passava de uma farsa. No entanto, as evidências coletadas por sobreviventes, jornalistas e investigadores contradizem essa versão. O governo ucraniano já deu início a processos formais contra diversos militares russos e solicitou ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que investigue os crimes cometidos durante a ocupação.