O chamado efeito sanfona — ou ioiô — caracteriza-se pelas variações frequentes de peso, em que a pessoa emagrece, engorda e volta a emagrecer em um ciclo contínuo. Essa condição, mais comum do que se imagina, revela uma combinação de fatores biológicos, hormonais, emocionais e comportamentais que dificultam a manutenção de um peso saudável a longo prazo.
Segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025, cerca de 31% da população brasileira convive com a obesidade. Muitas dessas pessoas buscam soluções rápidas para perder peso, recorrendo a dietas extremamente restritivas e pobres em nutrientes, o que leva a uma resposta metabólica adversa. De acordo com o nutricionista Lucas Fortunato, o corpo reage a essa privação de calorias armazenando energia, reduzindo o gasto calórico e acelerando a recuperação do peso assim que a alimentação volta ao padrão anterior. Além disso, o processo pode comprometer a massa muscular e favorecer o acúmulo de gordura corporal, dificultando ainda mais o controle do peso.
O psicólogo André Sena Machado explica que o aspecto emocional tem papel crucial no efeito sanfona. A sensação de privação, a frustração ao “falhar” em dietas rígidas e o consumo alimentar compulsivo, motivado por sentimentos negativos como tristeza ou ansiedade, reforçam esse ciclo nocivo. Pessoas que usam a comida como válvula de escape emocional ou têm histórico de transtornos alimentares estão entre as mais vulneráveis.
Celebridades como Britney Spears, Christina Aguilera, Mariah Carey e o ator brasileiro Danton Mello já relataram desafios com o efeito sanfona. Mello, que convive com diabetes tipo 2 há uma década, afirmou que a prática regular de exercícios físicos foi fundamental para estabilizar seu peso e melhorar sua saúde, demonstrando como a mudança de hábitos é essencial nesse processo.
Estudos recentes do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, publicados na revista Nature, sugerem que o efeito sanfona pode estar relacionado à epigenética. O trabalho mostrou que a obesidade altera células de gordura de forma duradoura, fazendo com que o organismo tenha uma “memória” do excesso de peso, o que facilita o reganho após dietas.
Outro fator em evidência são as chamadas “canetas emagrecedoras”, como Saxenda, Ozempic e Mounjaro. Esses medicamentos, populares nas redes sociais, são análogos do GLP-1, utilizados principalmente para o tratamento de diabetes tipo 2, mas que também auxiliam no controle do apetite e na perda de peso. A endocrinologista Wanessa Stival esclarece que, quando indicadas corretamente e com acompanhamento médico, essas medicações podem ajudar a prevenir o efeito sanfona, pois tratam comorbidades associadas à obesidade e facilitam a adoção de novos hábitos.
Contudo, o uso indiscriminado desses remédios, sem prescrição e fora de um plano terapêutico, representa um risco à saúde. Entre os efeitos colaterais estão náuseas, vômitos, desidratação, perda de massa muscular, risco aumentado de pancreatite e agravamento de doenças oculares em diabéticos. Além disso, reforçar a ideia de que basta aplicar uma injeção para emagrecer desvaloriza os esforços de quem luta contra a obesidade e perpetua preconceitos.
A Anvisa, em abril, passou a exigir a retenção da receita médica para a venda dessas medicações, justamente para coibir seu uso indevido.
Para evitar o vaivém na balança, é essencial investir na reeducação alimentar, no acompanhamento profissional multidisciplinar e na prática regular de atividades físicas. A manutenção do peso ideal depende de disciplina, paciência e mudanças sustentáveis no estilo de vida. Só assim é possível preservar a saúde, equilibrar a composição corporal e desenvolver uma relação mais saudável com a alimentação.