O WhatsApp começará a veicular anúncios dentro do aplicativo, encerrando uma longa tradição de manter a plataforma livre desse tipo de conteúdo. A decisão, anunciada nesta segunda-feira (16), visa criar uma nova fonte de receita para a empresa-mãe Meta Platforms, que busca rentabilizar a enorme base de usuários do serviço de mensagens.
De acordo com a Meta, os anúncios serão exibidos apenas na aba de atualizações do WhatsApp — que inclui status e canais — e não afetarão os chats privados. A empresa garantiu que as conversas pessoais, chamadas e grupos continuarão criptografados de ponta a ponta, não podendo ser usados para fins publicitários.
Apesar da tentativa de limitar os impactos da nova medida, especialistas alertam para possíveis reações negativas, especialmente na Europa. A União Europeia já havia sinalizado que a prática poderia violar tanto a Lei dos Mercados Digitais (DMA) quanto o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD).
Os anúncios serão direcionados com base em informações como idade, idioma, localização, canais seguidos e interações anteriores com propagandas. A Meta, no entanto, assegura que não utilizará mensagens privadas ou grupos para isso.
A mudança contraria a promessa feita pelos fundadores do WhatsApp, Jan Koum e Brian Acton, que garantiram manter o app sem anúncios desde sua criação em 2009. Após a aquisição pela Meta em 2014, a empresa passou a explorar formas de monetização, e os fundadores deixaram a companhia anos depois.
O Centro Europeu para os Direitos Digitais (noyb), liderado pelo ativista Max Schrems, criticou duramente a estratégia "Pay or Okay" da Meta, que obriga os usuários a aceitarem publicidade ou pagarem para preservar sua privacidade. Schrems afirmou que essa abordagem fere as leis europeias e prometeu acionar a justiça caso a prática persista.
A organização ainda indicou que o rastreamento e o cruzamento de dados entre plataformas sem consentimento explícito são ilegais, e que a Meta estaria adotando justamente o caminho oposto ao exigido pela legislação europeia.
Diante do cenário, o ativista acredita que muitos usuários poderão abandonar o WhatsApp e migrar para alternativas como o Signal, que não tem fins lucrativos e é mantido por doações.
Além dos anúncios, o WhatsApp também anunciou novas ferramentas de monetização: canais poderão cobrar assinaturas mensais para conteúdos exclusivos e empresários terão a opção de pagar para promover seus canais a novos públicos. Em 2025, dos US$ 164,5 bilhões arrecadados pela Meta, cerca de US$ 160,6 bilhões vieram de publicidade, o que evidencia a centralidade desse modelo de negócios para a empresa.