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Guerra
18/06/2025 12:00:00

Israel quer destruir arsenal iraniano, mas precisa de ajuda dos EUA para alcançar depósitos subterrâneos

Israel quer destruir arsenal iraniano, mas precisa de ajuda dos EUA para alcançar depósitos subterrâneos

O recente ataque lançado por Israel contra o Irã, na sexta-feira, 13 de junho, alcançou alvos significativos ligados ao programa nuclear iraniano, mas não conseguiu atingir os depósitos subterrâneos mais profundos, considerados cruciais para o arsenal nuclear do país. Especialistas apontam que essas estruturas altamente protegidas só poderiam ser destruídas com o apoio militar dos Estados Unidos.

A ofensiva, batizada de “Leão em Ascensão”, foi classificada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como uma resposta ao avanço do Irã em direção ao “ponto sem retorno” rumo à bomba atômica. Segundo ele, a operação durará “o tempo que for necessário”.

De acordo com o pesquisador Ali Vaez, do International Crisis Group, Israel não possui bombas com capacidade suficiente para destruir instalações profundamente enterradas como as de Natanz e Fordo. A especialista Kelsey Davenport, da Arms Control Association, confirmou que somente os EUA poderiam fornecer esse tipo de armamento.

Mesmo com a morte de nove cientistas nucleares nos ataques, o conhecimento técnico iraniano não pode ser eliminado, segundo o pesquisador Thierry Coville. Ele explica que há centenas de pesquisadores no país e que o programa nuclear é um saber consolidado. “Israel pode tentar destruir os locais, mas o conhecimento permanece. Isso pode inclusive impulsionar o desejo de obter a bomba”, afirmou.

Instalações subterrâneas resistem aos ataques

O centro de enriquecimento de Natanz teve sua parte superficial destruída, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com base em imagens de satélite. A destruição foi considerada significativa pelo Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional (ISIS), que alertou que os danos à alimentação elétrica podem comprometer milhares de centrífugas, paralisando temporariamente as operações.

Fordo, outro centro de enriquecimento, foi atingido, mas os danos relatados foram menores. A usina de conversão de Ispaan, onde se acredita estarem estocadas grandes reservas de urânio enriquecido, também foi alvo.

Segundo a professora de física nuclear Emmanuelle Gallichet, os bombardeios não atingiram diretamente as estruturas subterrâneas. Ela destacou que a AIEA observou níveis de enriquecimento de urânio no Irã acima do necessário para fins civis, chegando a traços de até 80%, o que reforça a suspeita de intenção bélica.

Risco de desvio de material e preocupação ambiental

Embora não tenham sido detectados vazamentos de radiação, analistas alertam para o risco de desvio de urânio enriquecido para locais secretos. Kelsey Davenport ressalta que esse desvio poderia passar despercebido por semanas, ainda mais diante das dificuldades impostas aos inspetores da AIEA após os ataques.

A possibilidade de um ataque à usina de Bushehr, no sul do país, preocupa autoridades internacionais. O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, reforçou que “instalações nucleares nunca devem ser atacadas”, devido aos riscos para a população e o meio ambiente.

Aproximação política do Irã com a bomba

Desde a retirada dos EUA do acordo nuclear em 2018, o Irã tem acelerado o enriquecimento de urânio. Em maio, o país acumulava mais de 400 kg de urânio enriquecido a 60%, quantidade que, se refinada a 90%, seria suficiente para a produção de múltiplas armas nucleares.

Apesar de negar ambições militares, a AIEA considera o Irã o único país sem armas nucleares que produz material tão altamente enriquecido. O último relatório da agência não aponta indícios concretos de um programa nuclear estruturado com fins bélicos, mas a falta de cooperação de Teerã preocupa a comunidade internacional.

Negociações interrompidas e suspeita de sabotagem diplomática

Antes dos ataques, estava prevista uma nova rodada de negociações entre Irã e Estados Unidos no dia 15 de junho, em Mascate, Omã. O diálogo, mediado pelo sultanato, visava conter o avanço do programa nuclear iraniano. No entanto, analistas afirmam que o ataque israelense pode ter sido motivado, em parte, pelo desejo de interromper o processo diplomático.

“Trump deu 60 dias ao Irã para responder à proposta americana. Israel atacou no 61º dia”, observou Emmanuelle Gallichet. Já o especialista Thierry Coville acredita que Netanyahu queria sabotar as negociações: “Israel atacou justamente no momento em que o diálogo ganhava fôlego”.

Com a escalada do conflito e a fragilidade das negociações, aumenta o temor de que o Irã decida, definitivamente, seguir em direção à construção de uma arma nuclear, alimentando ainda mais a instabilidade no Oriente Médio.