O Banco Mundial prevê que a economia mundial atravessará a pior década de crescimento econômico desde os anos 1960, com projeções que apontam para uma média de expansão global de apenas 2,5% até 2027. A estimativa para 2025 é ainda mais modesta: 2,3%. A desaceleração é atribuída, principalmente, ao aumento de barreiras comerciais e à crescente instabilidade política internacional.
Entre os fatores que agravam o cenário está a política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações, além de sobretaxas direcionadas à China, ao aço e ao alumínio — afetando diretamente exportadores como o Brasil. Apesar de o Tribunal de Comércio Internacional dos EUA ter declarado ilegais a maior parte dessas tarifas, a Casa Branca conseguiu, por meio de recurso judicial, manter as medidas, gerando incertezas no comércio global.
Segundo o Banco Mundial, esse ambiente protecionista tem abalado os pilares do sistema comercial que, nas últimas décadas, sustentaram a redução da pobreza extrema e o crescimento econômico, especialmente nos países em desenvolvimento. O órgão alerta que o comércio global pode entrar em colapso no segundo semestre de 2025, levando à perda de confiança nos mercados, aumento das incertezas e instabilidade financeira.
Desaceleração ameaça avanços sociais e econômicos
A análise do Banco Mundial destaca que o enfraquecimento do crescimento terá impacto direto sobre o emprego, a redução da pobreza e a diminuição das desigualdades. Economistas da instituição, como Indermit Gill e Ayhan Kose, afirmam que os retrocessos no comércio estão revertendo os efeitos positivos do chamado “grande milagre econômico” das últimas cinco décadas, quando o PIB per capita de países em desenvolvimento quase quadruplicou.
Ainda segundo o relatório, sem uma mudança de direção nas políticas econômicas globais, os danos aos níveis de vida da população mundial poderão ser profundos. A década de 2020, nesse cenário, tende a registrar o crescimento mais fraco em mais de cinquenta anos.
América Latina em risco com guerra comercial
A América Latina, que ainda se recupera de uma década de estagnação e dos efeitos da pandemia, será uma das regiões mais afetadas. O Banco Mundial projeta um crescimento médio de 2,3% para a região em 2025, com destaque negativo para o México, cuja previsão é de apenas 0,2%. O país foi duramente atingido por tarifas de 25% impostas por Washington sobre produtos não incluídos no Tratado de Livre Comércio da América do Norte, prejudicando suas exportações — das quais 80% têm como destino os Estados Unidos.
Para o Brasil, a expectativa é de um crescimento do PIB de 2,4% em 2025, abaixo do ideal para sustentar melhorias sociais e econômicas duradouras. Chile e Peru também devem crescer menos em comparação ao ano anterior, enquanto Colômbia e Argentina apresentam projeções mais otimistas.
O Banco Mundial enfatiza que o desempenho econômico da América Latina dependerá fortemente das economias dos Estados Unidos e da China, principais destinos das exportações sul-americanas. Caso as tensões comerciais persistam ou se agravem, o impacto sobre os países da região poderá ser severo tanto no campo econômico quanto no social e político.