No comando do Irã desde 1989, Ali Khamenei é a principal autoridade política e religiosa do país, acumulando há 35 anos o cargo de líder supremo. Com 86 anos, ele é o chefe de Estado mais longevo do Oriente Médio e tem controle absoluto sobre os rumos do governo, das forças armadas e das políticas públicas iranianas. Mesmo diante da recente ofensiva israelense que matou altos comandantes militares iranianos, como Hossein Salami e Mohammad Bagheri, Khamenei permanece ileso e no centro do poder. Segundo autoridades americanas, o então presidente dos EUA, Donald Trump, teria orientado Israel a não atacar Khamenei.
Ascensão ao poder após a Revolução Islâmica
Nascido em 1939 na cidade de Mashhad, no leste do Irã, Khamenei teve sua formação moldada por ideais religiosos e antiocidentais. Foi fortemente influenciado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, líder da Revolução Islâmica de 1979. Engajado no movimento que derrubou o xá Mohammad Reza Pahlevi, ele se tornou um dos principais aliados de Khomeini, chegando a liderar orações públicas em Teerã por indicação do próprio líder revolucionário.
Em 1981, sobreviveu a um atentado a bomba que deixou seu braço direito paralisado. Quatro meses depois, foi eleito presidente do Irã, cargo que exerceu por dois mandatos até 1989. Após a morte de Khomeini, Khamenei foi escolhido como sucessor pela Assembleia dos Peritos, apesar de não ter, na época, o grau religioso exigido pela Constituição. A legislação foi modificada para garantir sua permanência no cargo.
Repressão, poder absoluto e culto à personalidade
Desde que assumiu a liderança suprema, Khamenei agiu para consolidar sua autoridade, construindo estruturas paralelas ao Estado tradicional, como a Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), fortalecida para garantir sua influência. Também enfrentou duramente manifestações populares e opositores políticos ao longo das décadas, utilizando repressão violenta, prisões e assassinatos para silenciar críticos.
Reportagens internacionais indicam que ele controla um império financeiro bilionário baseado no confisco de bens, estimado em 95 bilhões de dólares, embora negue que esses recursos sejam usados para fins pessoais. Ele também incentivou o culto à própria imagem, promovendo sua figura como símbolo do regime.
Oposição interna e protestos históricos
Khamenei enfrentou protestos de grande repercussão, como os de 2009 e, mais recentemente, os de 2022, desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini sob custódia da polícia moral. As manifestações, que desafiaram o uso obrigatório do véu islâmico e cobraram mais liberdade para as mulheres, foram duramente reprimidas. Organizações de direitos humanos estimam mais de 500 mortes durante a repressão, além de milhares de prisões.
Erosão do “Eixo da Resistência”
Internacionalmente, Khamenei adotou uma estratégia baseada em guerras por procuração, financiando e armando grupos como o Hezbollah no Líbano, o Hamas na Faixa de Gaza e os houthis no Iêmen. Essa aliança informal, chamada de “Eixo da Resistência”, enfrentou reveses recentes.
O ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023 deflagrou a guerra em Gaza, resultando em mais de 55 mil mortes. A resposta israelense foi devastadora e abalou profundamente o grupo. Em setembro de 2024, Israel matou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, aliado histórico de Khamenei. Os houthis, por sua vez, também vêm sendo alvos de ofensivas dos EUA. Além disso, o presidente sírio Bashar al-Assad, outro aliado próximo, foi derrubado no fim de 2024.
Diante dessas perdas, a política externa de Khamenei encontra-se enfraquecida, e sua estratégia regional está sendo duramente testada, mesmo que sua influência dentro do Irã continue sólida.