As conversas diplomáticas entre Camboja e Tailândia sobre antigas disputas territoriais deram sinais positivos neste sábado (14), com os dois países demonstrando disposição para alcançar um entendimento mútuo. O anúncio foi feito pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Tailândia, Nikorndej Balankura, que destacou o "progresso e entendimento mútuo" obtidos no primeiro dia das negociações realizadas em Phnom Penh, capital cambojana.
Balankura declarou em entrevista coletiva que as negociações terão continuidade no domingo, ressaltando que o caminho diplomático ainda é a via mais eficaz para solucionar impasses entre as nações. A delegação tailandesa foi chefiada pelo assessor do ministério Prasas Prasasvinitchai, enquanto o grupo cambojano foi liderado por Lam Chea, ministro de Assuntos de Fronteira do país anfitrião.
Tensões recentes reacenderam a disputa
O atual esforço diplomático acontece após um confronto armado ocorrido em 28 de maio, que resultou na morte de um soldado cambojano em uma área conhecida como “Triângulo Esmeralda”, na fronteira tripla entre Camboja, Tailândia e Laos. Apesar do acordo militar firmado no dia seguinte para redução das tensões, Phnom Penh manteve suas tropas no local, contrariando o pedido de retirada feito por Bangkok.
Ações unilaterais e retaliações
A situação se agravou ainda mais após o exército tailandês assumir, em 7 de junho, o controle das passagens fronteiriças com o Camboja, justificando a medida como resposta a supostas ameaças à soberania e segurança nacional. Como reação, o governo cambojano suspendeu a exibição de séries e filmes tailandeses em sua televisão e o primeiro-ministro Hun Manet orientou empresas de internet a não utilizarem tecnologia oriunda da Tailândia.
Conflitos históricos e reivindicações territoriais
A fronteira de mais de 800 quilômetros entre os dois países é marcada por disputas persistentes, resultado de tratados firmados ainda na era da ocupação francesa na Indochina. Um dos episódios mais críticos da rivalidade ocorreu em 2011, com confrontos em torno do templo Preah Vihear — Patrimônio Mundial da Unesco reivindicado por ambos — que deixaram ao menos 28 mortos e milhares de desabrigados. Em 2013, a Corte Internacional de Justiça reconheceu a soberania do Camboja sobre uma área de 4,6 km² ao redor do templo.
Mais recentemente, o premiê cambojano anunciou que pretende apresentar nova queixa à Corte sobre outras quatro áreas em disputa, incluindo a região onde ocorreu a morte do soldado em maio. Mesmo com esse pano de fundo tenso, os avanços deste sábado sinalizam uma possível abertura para o diálogo e para soluções pacíficas a longo prazo.