Apesar das declarações públicas de condenação aos recentes ataques israelenses, o Hezbollah e outras milícias ligadas ao Irã têm evitado se envolver diretamente na nova escalada de tensões entre Teerã e Tel Aviv. A postura cautelosa do grupo libanês, bem como de aliados iraquianos, contrasta com o histórico de atuação na linha de frente do chamado “Eixo da Resistência” liderado por Teerã. A informação é da agência Associated Press (AP).
Desde o início da ofensiva de Israel contra alvos iranianos, o Hezbollah limitou sua reação a notas de repúdio e homenagens aos oficiais mortos. Em Beirute, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, prestou tributo ao ex-líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, morto em setembro de 2024, mas o atual comandante do grupo, Naim Kassem, não demonstrou intenção de retaliar. O silêncio reforça a percepção de enfraquecimento estratégico da organização.
Entre os grupos armados no Iraque, como a milícia Kataib Hezbollah, também não houve mobilização militar. Embora tenham criticado publicamente o uso do espaço aéreo iraquiano por Israel, as declarações se limitaram a exigir a retirada de tropas norte-americanas do país. A ausência de ameaças diretas de retaliação levanta dúvidas sobre a disposição desses grupos em seguir os passos do Irã em um novo conflito aberto.
Analistas apontam que os aliados do Irã estão mais fragilizados do que nos confrontos anteriores. O Hezbollah perdeu parte relevante de sua capacidade de fogo e de seu comando militar após intensos combates com Israel em 2024. A queda do regime sírio de Bashar al-Assad, ocorrida em dezembro, também interrompeu as principais rotas de suprimento de armas entre Teerã e Beirute, isolando ainda mais o grupo libanês.
Para Andreas Krieg, professor do King’s College de Londres, os acontecimentos recentes revelam que o Eixo da Resistência nunca foi uma estrutura totalmente coesa. Ele avalia que a aliança tem se transformado em uma rede descentralizada, onde cada facção atua conforme seus próprios interesses e limitações. “Já não se trata exatamente de um eixo, mas de uma rede solta, em que cada um está ocupado em garantir a própria sobrevivência”, disse.
O pesquisador libanês Qassem Qassir, que tem ligação com o Hezbollah, afirma que ainda não se pode descartar uma resposta futura. Segundo ele, isso dependerá da evolução tanto no campo militar quanto nas negociações políticas. “Tudo é possível”, afirmou.
Já os Houthis, do Iêmen, continuam lançando mísseis esporádicos contra Israel, mas sua atuação limitada geograficamente e com menor poder de fogo torna o impacto estratégico reduzido. Com isso, o esperado apoio regional a uma reação iraniana direta segue fragmentado e, até o momento, contido.