08/07/2025 08:48:23

Geral
15/06/2025 19:00:00

Crateras atacam 14 bairros de Maceió

Crateras atacam 14 bairros de Maceió

Um levantamento feito pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) identificou a presença de pelo menos 17 voçorocas espalhadas por 14 bairros de Maceió. O avanço dessas crateras tem causado preocupação entre moradores e especialistas, que alertam para o risco de colapso em diversas áreas da capital. A equipe do jornal Tribuna Independente esteve em três dessas regiões: a Ladeira do Catolé, no Benedito Bentes (onde estão localizadas sete voçorocas), e o bairro Santa Amélia. Em ambas, o cenário é alarmante, com a erosão se expandindo de forma visível e sem controle, enquanto o poder público parece alheio à gravidade da situação.

Além das já citadas, as pesquisas da Ufal detectaram voçorocas também nos bairros Tabuleiro dos Martins, Chã da Jaqueira, Chã de Bebedouro, Fernão Velho, Serraria, Feitosa, Sítio São Jorge, Jacarecica, Ipioca, Riacho Doce e Pescaria. Em Santa Amélia, por exemplo, uma cratera com 150 metros de largura e 100 de profundidade está a apenas 30 metros da principal via do bairro. Ao ser questionada, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra) afirmou desconhecer o caso e solicitou fotos e a localização exata da erosão.

O fenômeno das voçorocas é um processo de erosão severa causado pela força das chuvas sobre solos desprotegidos, onde a ausência de vegetação permite que a água escave sulcos profundos. Esse processo pode ser acelerado por intervenções humanas como desmatamento, construção desordenada, atividades agrícolas intensas e mineração.

O professor Bruno Ferreira, da Ufal, especialista em Geociências, explica que o planejamento urbano desconsiderou as características naturais do relevo de Maceió. Segundo ele, parte significativa da cidade foi construída sem estudos adequados, especialmente em áreas de encostas. A construção de avenidas que ligam áreas altas e baixas da cidade exigiu cortes em barreiras, sem que houvesse manutenção posterior. Isso, somado a desmatamentos, descarte irregular de resíduos, drenagens clandestinas e despejo de esgoto, agravou o risco de deslizamentos e erosões em áreas habitadas.

Na Ladeira do Catolé, a situação é particularmente crítica. Ali, os processos de voçorocamento têm raízes antigas e se intensificam com as chuvas. A falta de esgotamento sanitário e galerias de águas pluviais adequadas agrava a situação, com o acúmulo de água sobrecarregando as encostas e provocando o surgimento de crateras.

O professor ressalta que o controle das voçorocas exige intervenções complexas, incluindo obras de infraestrutura, recuperação da vegetação e ações de educação ambiental. A configuração geológica da cidade, com solos argilosos, profundos e encostas escarpadas, torna o problema ainda mais difícil de enfrentar.

Moradora da Travessa das Chagas, a jovem Alice Suellen, de 22 anos, vive a poucos metros da erosão e relata o medo constante. Ela e os vizinhos improvisaram um local para observar o avanço da cratera. "Não queria sair daqui. Tomara que resolvam logo. Somos muitos aqui e merecemos respeito. Se as casas forem engolidas, o que será de nós?", desabafa.

Para o arquiteto e urbanista Dilson Batista Ferreira, as erosões têm como principal causa a drenagem inadequada das águas da chuva, associada ao uso incorreto do solo. Quando a água não é corretamente canalizada, ela corre de forma concentrada, removendo camadas de terra e formando sulcos que evoluem para grandes buracos. A ausência de vegetação e a impermeabilização do solo aumentam a velocidade do escoamento superficial, agravando ainda mais o processo.

Dilson defende a implantação de sistemas eficientes de drenagem pluvial e a preservação da vegetação nativa como medidas fundamentais para conter a expansão das voçorocas. Na semana passada, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 2 milhões da Seminfra, atendendo a um pedido da Defensoria Pública do Estado, para a realização de obras de contenção no Benedito Bentes, um dos bairros mais afetados.

A situação exige resposta urgente e ações coordenadas entre prefeitura, governo estadual e órgãos de fiscalização, sob risco de perdas humanas e materiais em larga escala.