“Preciso ressignificar esse nome”, diz filho de Marcola sobre sua identidade e futuro

Lucas Giglioli Herbas Camacho, de 17 anos, filho de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola — apontado como líder máximo do Primeiro Comando da Capital (PCC) — decidiu quebrar o silêncio e falar publicamente sobre sua relação com o pai, o peso do nome que carrega e seus projetos de vida. Em entrevista, o adolescente falou abertamente sobre crescer com o pai preso, os desafios da identidade e sua vontade de traçar um caminho próprio.

Desde que nasceu, Lucas nunca teve a presença constante de Marcola, que cumpre pena em presídio de segurança máxima. Apesar da distância, ele afirma que o pai exerce influência, principalmente por meio de conversas em que aconselha o filho a não repetir seus passos. “Ele me passa a visão. É um amor silencioso, mas real. Deixa claro que a vida que viveu não tem romantismo nenhum”, contou.

Além de Marcola, Lucas também tem laços com Alejandro Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha, tio e membro da cúpula do PCC, também preso. Segundo o jovem, Marcolinha teve mais contato com ele e chegou a ser uma figura de disciplina e apoio em sua infância. “Não é santo, mas me deu direção quando precisei”, disse.

Hoje, a figura central em sua vida é a mãe, que criou o filho sozinha. Lucas destaca a força dela como um exemplo determinante para sua formação. “Ela segurou o mundo para me criar”, afirma.

O jovem conta que convive com medidas de segurança, mas evita viver em estado de paranoia. Seu maior incômodo é o estigma de ser constantemente lembrado como “o filho do Marcola”. Ainda assim, afirma que decidiu encarar esse peso como missão. “Se antes ele era medo, quero que agora seja força, recomeço.”

No 3º ano do ensino médio, Lucas sonha com a música como forma de expressão e transformação. Pretende lançar sua carreira em breve, e já prepara um feat com Mauro Davi Nepomuceno, o Oruam, filho de Marcinho VP, ligado ao Comando Vermelho. Para ele, a música é sua resposta ao mundo. “Não é só som, é sobrevivência. Quero mostrar que dá para quebrar o ciclo. Eu sou o que decidi ser.”

Entre suas referências estão rappers como Emicida, Rashid e BK’, que ele admira por retratar a realidade das periferias com poesia. Em maio, Lucas divulgou uma prévia de uma canção dedicada ao pai, marcada pela saudade e pela expectativa de liberdade.

Marcola e Marcolinha seguem presos na Penitenciária Federal de Brasília. Recentemente, a movimentação para exames de Marcola exigiu forte esquema de segurança, com isolamento de setores inteiros do Hospital de Base do DF. Enquanto isso, Lucas constrói sua identidade, tentando ressignificar o nome que o tornou conhecido e transformar dor em arte.