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08/06/2025 11:00:00

Pesquisadores intensificam esforços para preservar o uru-nordestino, ave em extinção com papel vital na floresta

Pesquisadores intensificam esforços para preservar o uru-nordestino, ave em extinção com papel vital na floresta

Na Reserva Biológica de Pedra Talhada, localizada em Quebrangulo, Alagoas, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) buscam recuperar a população do uru-nordestino, uma ave ameaçada de extinção. Essa espécie desempenha um papel essencial na manutenção dos serviços ecossistêmicos da floresta, como a regeneração das matas por meio da dispersão de sementes, controle de insetos e fertilização do solo com suas fezes.

A iniciativa teve início em 2018, quando o Laboratório de Biotecnologia e Conservação de Aves Neotropicais (Labecen), coordenado pelo professor Márcio Efe, identificou o canto da ave na região. Na época, não havia intenção de aprofundar os estudos sobre o uru-nordestino. No entanto, a partir de 2024, com a participação do Labecen em ações do Plano de Manejo Populacional (PMP) em Alagoas, a busca pelo animal passou a ser feita mensalmente.

A importância da ave está diretamente ligada à preservação da floresta e dos recursos naturais da região, como a água usada por municípios vizinhos. A reserva também contribui para a regulação climática, o sequestro de carbono e a conservação do solo. Segundo o professor Efe, a queima na Amazônia reforça ainda mais a necessidade de medidas preventivas de conservação.

Os estudos realizados têm como objetivo futuro a criação da ave sob cuidados humanos, visando aumentar o número de indivíduos que possam ser reintroduzidos na natureza em áreas florestais de Alagoas. Essa possibilidade, segundo os pesquisadores, poderá impulsionar a conservação dos ecossistemas locais.

O uru-nordestino está contemplado em dois Planos de Ação Nacional (PAN) para espécies ameaçadas de extinção: o PAN Aves da Caatinga e o PAN da Mata Atlântica. Os planos incluem ações como a busca por novas populações, levantamento de dados populacionais, controle de animais predadores e elaboração de estratégias específicas de manejo. Ambas as iniciativas são coordenadas pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), órgão vinculado ao ICMBio.

Em agosto de 2024, uma oficina reuniu especialistas para desenvolver o Programa de Manejo Populacional do uru-nordestino. Nessa ocasião, foi reforçada a urgência de implementar ações integradas tanto na natureza quanto em cativeiro, com estratégias voltadas à criação de populações viáveis, tanto genética quanto demograficamente.

O PMP inclui etapas como coleta de informações sobre reprodução, estrutura genética e riscos sanitários, além da definição de protocolos para coleta de ovos, translocação de indivíduos e criação em cativeiro. Na Serra de Baturité, no Ceará, essas ações vêm sendo desenvolvidas desde 2017 pela ONG Aquasis, em parceria com o Zoológico Parque das Aves. Entre os esforços, destacam-se a instalação de câmeras para localizar ninhos e identificar ameaças ao uru-nordestino.

Já em Pedra Talhada, o trabalho de campo é conduzido apenas pelo Labecen, que atualmente conta com 11 alunos envolvidos em diferentes frentes de pesquisa. Um dos registros mais relevantes foi feito por Rawelly de Oliveira Gonçalves, recém-egresso do mestrado em Diversidade Biológica e Conservação dos Trópicos da Ufal. Durante uma expedição, ele gravou o canto da ave em resposta a um playback e conseguiu visualizá-la, embora sem registrar imagem, pois o animal foi espantado pela aproximação do grupo.

Apesar dos esforços, os especialistas reconhecem que as estratégias ainda estão em estágio inicial, com pouca informação sobre as populações remanescentes e limitado domínio técnico sobre o manejo da subespécie em cativeiro. Atualmente, apenas três exemplares vivem sob cuidados humanos, no Parque das Aves. Em 2022, cinco aves foram levadas ao local, mas não houve sucesso reprodutivo até o momento.

O uru-nordestino (Odontophorus capueira plumbeicollis) mede cerca de 24 centímetros, pesa entre 400 e 460 gramas e lembra uma codorna. Vive no chão da floresta e constrói ninhos no solo com folhas secas. Alimenta-se de sementes, frutos, insetos e pequenos artrópodes. Sua vulnerabilidade aumenta com a presença de cães soltos, destruição do habitat e doenças transmitidas por aves domésticas. Com uma população estimada em menos de 250 indivíduos reprodutores, é classificado como Criticamente em Perigo (CR) na lista do Ibama.

A espécie é registrada em poucas regiões do Nordeste, como a Serra de Baturité e Pedra Talhada. Embora ainda seja considerada uma subespécie do uru-do-sudeste, especialistas apontam diferenças morfológicas que indicam sua provável reclassificação como espécie distinta em breve.

O Plano de Manejo Populacional visa, além da preservação, fomentar o engajamento público na defesa do uru-nordestino e de seu habitat. Embora protegidas por lei, as áreas onde vivem essas aves demandam mais fiscalização e medidas eficazes contra ameaças. O objetivo maior das ações de conservação é garantir populações viáveis e saudáveis nas regiões onde a espécie historicamente ocorreu.