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Leitura de Domingo
08/06/2025 10:00:00

Os sinais de alerta do burnout que não devem ser ignorados

Os sinais de alerta do burnout que não devem ser ignorados

Em 2020, Amy, uma executiva de marketing atuando em uma das maiores empresas de saúde do mundo, experimentou os primeiros sinais do burnout enquanto organizava um evento. Tontura, confusão mental e sensação de estar “enjoada e bêbada em um barco” foram os indícios iniciais de que algo estava errado. O problema evoluiu a ponto de ela desmaiar no chuveiro, não conseguir cuidar dos filhos e precisar se afastar do trabalho por meses. Seu corpo, como ela própria descreve, estava implorando por um basta.

A síndrome de burnout, que combina cansaço mental, exaustão física e desmotivação profunda, tem crescido em todo o mundo. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde passou a reconhecer oficialmente o problema como um distúrbio ligado ao estresse crônico no trabalho. A psicóloga Christina Maslach, pioneira no estudo da condição, ressalta que o burnout não é uma doença médica convencional, mas uma resposta ao estresse contínuo e mal gerido nas relações profissionais.

O problema tem se agravado com o avanço da digitalização, segundo a professora Heejung Chung, do King's College London. A cultura de estar sempre disponível transformou o ambiente de trabalho em uma extensão contínua da vida pessoal, impedindo a desconexão necessária para o descanso. O custo para a economia britânica, por exemplo, já ultrapassa 102 bilhões de libras por ano. No Brasil, dados do INSS mostram que 421 pessoas foram afastadas por burnout em 2023, o maior número da última década e um salto de 136% em comparação com 2019.

Embora o burnout esteja frequentemente associado ao trabalho formal, ele também afeta estudantes, pais e cuidadores — especialmente mulheres que enfrentam a sobrecarga da dupla jornada. A psicoterapeuta Claire Plumby destaca que os primeiros sinais podem parecer inofensivos: cansaço constante, desprezo pelo trabalho, queda de produtividade e pensamentos recorrentes de fuga ou desejo de abandonar tudo.

O desenvolvimento do burnout costuma passar por cinco fases: no início, a pessoa aceita mais tarefas do que pode cumprir; depois, começa a abrir mão de atividades prazerosas; em seguida, vem a apatia e o distanciamento emocional; na quarta fase, há esgotamento profundo; por fim, o colapso total, com sintomas que podem incluir crises de pânico e incapacidade de sair da cama. A recuperação, nesses casos, pode levar meses ou até anos.

Seis fatores aumentam os riscos de burnout: sobrecarga de trabalho, falta de controle sobre decisões, ausência de reconhecimento, relações profissionais tóxicas, injustiça no ambiente de trabalho e conflito entre os valores pessoais e as práticas da organização.

Para evitar ou tratar o burnout, é essencial aprender a se desconectar do trabalho fora do expediente. A pesquisadora Sabine Sonnentag mostrou que trabalhadores que conseguem se desligar mentalmente enfrentam menor risco de exaustão. Além disso, construir uma rede de apoio — seja com amigos, colegas ou profissionais de saúde mental — é fundamental.

A autora Claire Ashley recomenda focar em três áreas: buscar mais controle sobre as próprias tarefas, cuidar do bem-estar pessoal e identificar os próprios valores. Ela sugere o exercício da Esfera de Controle, de Stephen Covey, como forma de entender o que pode ou não ser mudado. Já Russ Harris propõe três opções diante de situações desafiadoras: sair, permanecer agindo com base nos valores, ou permanecer sem agir de forma eficaz — sendo essa última a menos desejável.

Recuperar-se do burnout não exige transformações radicais, como abandonar o emprego, mas sim pequenos passos consistentes que ajudem a resgatar o equilíbrio emocional e o sentido da própria vida.