Uma pesquisa publicada na revista científica Neurology apontou uma possível relação entre o consumo diário de alimentos ultraprocessados e o surgimento precoce de sintomas não motores da Doença de Parkinson. O estudo foi conduzido com base nos dados de aproximadamente 42 mil indivíduos, acompanhados ao longo de décadas.
Entre 1984 e 2006, os participantes preencheram questionários sobre seus hábitos alimentares. Com base nessas informações, os pesquisadores os dividiram em cinco grupos, conforme a quantidade de alimentos ultraprocessados consumidos por dia.
Em uma segunda etapa, iniciada em 2012, os participantes relataram se sofriam de distúrbio comportamental do sono REM e constipação — sintomas que, embora não motores, são reconhecidos como indicadores precoces da Doença de Parkinson. Nos anos seguintes, outros sinais também foram avaliados, como redução do olfato, alteração na percepção de cores, sonolência diurna, dores no corpo e sintomas depressivos.
Esses sinais podem surgir anos, ou até décadas, antes dos sintomas motores mais conhecidos da doença. A presença desses indicadores pode facilitar um diagnóstico precoce.
Os pesquisadores então criaram quatro segmentos: pessoas sem nenhum dos sintomas analisados; com um sintoma; com dois sintomas; e com três ou mais sintomas associados ao Parkinson. Ao cruzar esses dados com os padrões alimentares, verificaram que indivíduos que consumiam, em média, 11 tipos diferentes de ultraprocessados por dia tinham mais que o dobro de risco de desenvolver ao menos três dos sete sintomas investigados, em comparação com os que consumiam até três tipos desses alimentos diariamente.
Xiang Gao, professor do Instituto de Nutrição da Universidade Fudan, na China, e um dos autores do estudo, afirmou que embora esta seja a primeira pesquisa a associar diretamente ultraprocessados aos sintomas iniciais da Doença de Parkinson, outras já demonstraram que esses alimentos aumentam inflamações, favorecem o estresse oxidativo e comprometem a diversidade microbiana intestinal — fatores ligados à degeneração neuronal.
Gao destaca que ainda são necessários novos estudos para confirmar essas evidências e entender se reduzir o consumo de ultraprocessados, ainda na fase dos sintomas não motores, poderia retardar a evolução clínica do Parkinson. Pesquisas futuras também devem explorar o impacto de mudanças na dieta sobre o avanço da doença.