China evita contato com Trump por temer constrangimento diplomático a Xi Jinping

Enquanto os Estados Unidos demonstram interesse em retomar o diálogo com a China para conter os impactos de um desacordo comercial, o governo chinês adota postura cautelosa e tem evitado qualquer confirmação sobre um possível contato direto entre o presidente Donald Trump e o líder Xi Jinping. Segundo informações divulgadas pelo site Politico, a hesitação de Pequim seria motivada pelo temor de que Xi seja exposto a uma situação diplomática embaraçosa durante eventual interação com o presidente norte-americano.

Fontes próximas às negociações afirmam que Trump tem insistido por um telefonema com Xi, acreditando que uma conversa direta entre os dois líderes poderia facilitar um acordo econômico e impulsionar sua imagem pública, especialmente em meio às tensões comerciais. No entanto, para as autoridades chinesas, Trump é considerado imprevisível, o que, segundo Rush Doshi, ex-diretor adjunto do Conselho de Segurança Nacional para China e Taiwan no governo Biden, representa riscos para a reputação do líder chinês.

Eventos anteriores reforçam o receio de Pequim. Encontros promovidos por Trump no Salão Oval com os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa, tiveram forte repercussão midiática e resultados desconfortáveis no campo diplomático. A leitura da diplomacia chinesa é de que a exposição pública gerada por esse tipo de reunião pode gerar prejuízos à imagem de Xi Jinping.

Enquanto isso, o impasse nas relações comerciais entre as duas potências persiste. Um acordo assinado em maio previa a redução de tarifas e a retomada das exportações chinesas de minerais estratégicos para os EUA, essenciais para setores como o automotivo, eletrônico e de defesa. No entanto, Pequim tem adiado o envio de terras raras e ímãs derivados, frustrando a expectativa do lado americano. Uma fonte ligada ao governo dos EUA declarou que “Xi já deixou claro que não está interessado em exportar mais desses materiais”.

Outra questão delicada envolve o fentanil, droga sintética altamente viciante, responsável por uma crise de saúde pública nos EUA. Os precursores químicos utilizados em sua fabricação têm, em grande parte, origem chinesa. Representantes do setor empresarial americano apontam que um avanço real nas negociações comerciais depende do combate efetivo à exportação desses insumos.

Apesar de a China ter enviado duas propostas à Casa Branca para discutir restrições à exportação de precursores químicos do fentanil, não houve resposta formal por parte dos EUA até o momento. Com o prazo de vigência do acordo comercial se esgotando e o risco de escassez de materiais ameaçando paralisar linhas de produção industrial, ainda não há previsão para um novo encontro — nem mesmo por telefone — entre Trump e Xi.

De acordo com um ex-assessor de Trump, “do ponto de vista dos EUA, não há risco em pedir a ligação. Se a China recusar, podemos dizer que estamos tentando e eles não”.