Uma inovação desenvolvida no Brasil tem se destacado internacionalmente ao oferecer uma solução de alta precisão para o diagnóstico precoce da doença pulmonar intersticial associada à artrite reumatoide (RA-ILD), condição inflamatória grave que pode levar à morte. Batizado de MRad, o modelo utiliza inteligência artificial (IA) para analisar imagens de tomografia computadorizada e prever a progressão da doença com antecedência significativa.
A criadora do sistema é a médica Licia Maria Henrique da Mota, diretora científica da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), que recebeu o prêmio PANLAR Innovation Award 2025 pelo desenvolvimento. O MRad identifica alterações sutis nos pulmões que são imperceptíveis ao olhar humano nos estágios iniciais da RA-ILD, condição que atinge até 30% dos pacientes com artrite reumatoide e é frequentemente subdiagnosticada.
O sistema foi testado em 105 pacientes da coorte BERTHA, acompanhados por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os algoritmos foram treinados com base em tomografias, dados clínicos e laboratoriais, histórico médico e até informações genéticas, elevando o potencial de identificar pacientes com risco de progressão da doença.
Um dos principais diferenciais do MRad é o uso do índice reticulovascular ponderado (WRVS), que permite medir automaticamente pequenas alterações nos vasos pulmonares e áreas de fibrose, superando em precisão a análise manual feita por especialistas. Essa tecnologia possibilita diagnósticos mais objetivos, rápidos e confiáveis.
A ferramenta conta com parceria técnica da empresa britânica Brainomix, ligada à Universidade de Oxford, responsável por transformar as tomografias em dados altamente precisos. A IA padroniza a leitura dos exames, elimina variações de interpretação entre médicos e permite decisões mais assertivas sobre o tratamento. Pacientes com sinais de agravamento podem receber terapias intensivas mais cedo, enquanto casos estáveis evitam intervenções desnecessárias.
Além disso, o objetivo da equipe é tornar o MRad acessível a hospitais de diferentes portes por meio de plataformas em nuvem. A proposta inclui capacitar profissionais de saúde em todo o país, incluindo regiões com menos recursos, e garantir que a IA complemente o trabalho médico, sem substituí-lo.
Segundo a pesquisadora, o próximo passo será expandir a aplicação do MRad para outras doenças pulmonares inflamatórias e testá-lo em populações mais amplas e diversas, tanto no Brasil quanto no exterior, para validar sua eficácia em diferentes contextos clínicos.
A invenção representa mais um exemplo do papel crescente da inteligência artificial na área da saúde. Hoje, algoritmos auxiliam desde diagnósticos por imagem até o planejamento terapêutico e a organização hospitalar, com impacto direto na qualidade da assistência e na eficiência dos serviços médicos.