Embora a Rússia tenha fracassado em seus objetivos iniciais na invasão da Ucrânia — planejada como uma rápida campanha de três dias para tomar Kiev e derrubar o governo ucraniano —, autoridades e analistas alertam que um eventual confronto direto com a Otan teria uma natureza completamente distinta. O principal objetivo de Moscou em um conflito contra a aliança não seria a conquista territorial, mas sim a destruição da Otan como entidade política e militar coesa.
Diferentemente da guerra prolongada e estática na Ucrânia, uma ofensiva russa contra a Otan visaria minar sua unidade, apostar na fragmentação interna e paralisar sua capacidade de resposta. Moscou, ciente de que não venceria uma guerra convencional total com a Otan, mesmo sem envolvimento direto dos EUA, teria como estratégia uma campanha curta e de alta intensidade, voltada para desestabilizar a aliança por meio da coerção.
Analistas militares apontam que um ataque russo poderia começar com uma incursão limitada em um ponto vulnerável — como os Estados Bálticos — seguida de ameaças explícitas de escalada nuclear caso a Otan tentasse retomar o território. Essa “santuarização agressiva” incluiria a mobilização de mísseis com ogivas nucleares táticas, bem como ataques convencionais à infraestrutura civil na retaguarda europeia para elevar o custo da resistência.
Essa tática de pressão teria como base a aposta de que os Estados europeus, diante de ameaças nucleares e possíveis danos diretos em seus territórios, hesitariam em agir de forma coordenada, comprometendo a integridade da aliança. Embora se espere resistência firme de países do Leste Europeu, o Kremlin contaria com a relutância das grandes potências ocidentais para sustentar a defesa de seus aliados menores.
Para realizar tal ofensiva, a Rússia precisaria de forças móveis bem treinadas, apoio logístico, capacidade de drones táticos, artilharia moderna e, sobretudo, um arsenal nuclear de pronta resposta. Relatórios sugerem que, mesmo em guerra, Moscou está conseguindo mobilizar tropas e aumentar sua produção militar, estocando equipamentos e munições para além do necessário na frente ucraniana.
Enquanto a guerra na Ucrânia continuar, um ataque à Otan parece improvável, mas o ritmo de produção russa e a mobilização de recursos indicam preparação para outros cenários. Apoiar a Ucrânia militarmente não apenas é uma ação moralmente justificada, mas também ajuda a conter o ímpeto russo e reforça o comprometimento da Otan com a segurança regional.
A Otan, por sua vez, precisa se preparar para uma guerra diferente — curta, agressiva e com o objetivo de paralisá-la politicamente. Isso requer fortalecer a defesa avançada nas fronteiras, mobilizar a indústria bélica europeia em escala de guerra e investir em capacidades de contra-ataque. A aliança deve também deixar claro que está pronta para responder de forma proporcional a qualquer ameaça nuclear ou convencional, inclusive com força dissuasiva europeia caso o apoio americano enfraqueça.
Ignorar esse tipo de ameaça seria um erro estratégico. A Rússia já deixou claro que suas ambições vão além da Ucrânia. Preparar-se para a guerra é, paradoxalmente, o melhor caminho para evitá-la. E, se o confronto vier, ele não se parecerá com o atual conflito no Donbass — será um jogo de pressão, intimidação e velocidade, visando quebrar a Otan por dentro.