A Rússia acusou a Sérvia de fornecer munições à Ucrânia em meio à guerra em curso, classificando o ato como uma “facada nas costas” de um de seus mais antigos aliados europeus. Em comunicado emitido pelo Serviço de Informações Externas da Rússia (SVR), Moscou afirmou que empresas de defesa sérvias estariam burlando a neutralidade declarada por Belgrado e enviando armas a Kiev por meio de intermediários da OTAN, especialmente Chéquia, Polónia e Bulgária, além de rotas alternativas envolvendo países africanos.
A nota do SVR sugeriu que as exportações estariam sendo feitas por meio de “certificados de utilizador final e países intermediários falsos”, mecanismo que serviria como cobertura para o que a Rússia chama de “ações anti-russas”. Ainda segundo o órgão, a contribuição da indústria bélica sérvia para o conflito já teria alcançado centenas de milhares de cartuchos e cerca de um milhão de munições para armas leves, todas de padrão soviético, herdado da antiga Iugoslávia.
O presidente da Sérvia, Aleksandar Vu?i?, respondeu às acusações nesta sexta-feira (30), negando qualquer envolvimento direto de seu país no fornecimento de armas à Ucrânia. Ele reconheceu a existência de um contrato com a Chéquia, mas garantiu que o acordo não autoriza reexportações e que nenhuma munição foi enviada para território ucraniano. Vu?i? também declarou estar disposto a investigar o caso em conjunto com Moscou e mencionou um recente entendimento com o presidente russo, Vladimir Putin, para a criação de um grupo de trabalho bilateral que apure como os armamentos de origem sérvia chegaram à Ucrânia.
As tensões não são novas. Em março, a Sérvia já havia rejeitado alegações semelhantes após denúncias de envio de foguetes para a defesa ucraniana. Já em junho de 2024, o jornal Financial Times informou que munições sérvias no valor de 750 milhões de euros teriam chegado à Ucrânia por vias indiretas.
A resposta russa foi dura. No comunicado, o SVR acusou os envolvidos de lucrarem com o “sangue de povos eslavos irmãos” e de esquecerem quem são seus verdadeiros aliados. “O desejo de lucrar superou qualquer senso de lealdade ou fraternidade”, afirmou a nota oficial.
Vu?i?, por sua vez, classificou os ataques — tanto do Leste quanto do Ocidente — como parte de uma pressão constante sobre Belgrado, que, segundo ele, busca manter uma política externa “autônoma e independente” diante de um cenário internacional polarizado.