Entre 1904 e 1908, o Império Alemão cometeu um dos episódios mais brutais da história colonial na África: o massacre dos povos herero e nama, considerado o primeiro genocídio do século 20. A tragédia ocorreu no então Sudoeste Africano Alemão, atual Namíbia, colônia dominada pela Alemanha desde 1884.
A repressão começou após revoltas contra a opressão colonial. Os hereros, povo banto que vivia da pecuária, já haviam sofrido com a perda de suas terras e rebanhos, vítimas da expansão violenta dos colonos alemães e de uma epidemia de peste bovina em 1897. O estopim veio em janeiro de 1904, quando os hereros atacaram postos coloniais e destruíram linhas de comunicação.
Em resposta, o general alemão Lothar von Trotha assumiu o comando das tropas coloniais e, após vencer os revoltosos na Batalha de Waterberg, forçou milhares de hereros a fugir para o deserto de Omaheke. Em outubro de 1904, von Trotha emitiu uma ordem de extermínio: todos os hereros dentro das fronteiras alemãs deveriam ser mortos, inclusive mulheres e crianças. A escassez de água e a vigilância armada nos poços levaram milhares à morte por sede.
Em abril de 1905, nova ordem de extermínio foi emitida, agora contra os namas, que também se revoltaram. Com táticas de guerrilha, eles resistiram até 1908, mesmo após a Alemanha declarar oficialmente o fim da guerra em 1907. Os sobreviventes dos dois grupos foram internados em campos de concentração e submetidos a trabalhos forçados. Muitos morreram de doenças, fome e maus-tratos. A palavra "Konzentrationslager" (campo de concentração) foi usada oficialmente pela primeira vez nesse contexto.
Estima-se que cerca de 65 mil hereros, de uma população de 80 mil, e cerca de 10 mil namas, de um total de 20 mil, foram mortos. Algumas estimativas apontam até 100 mil vítimas.
Durante décadas, a Alemanha evitou reconhecer oficialmente o genocídio. Só em 2015, após pressão internacional e mobilizações dos descendentes das vítimas, o governo alemão iniciou negociações formais com a Namíbia. Em 2021, a Alemanha reconheceu o massacre como genocídio e anunciou um programa de ajuda financeira de 1,1 bilhão de euros a ser pago em 30 anos, destinado a projetos sociais. No entanto, o pagamento de reparações foi recusado, gerando críticas por parte de líderes hereros e namas, que apontam exclusão das negociações e exigem reparações diretas. Até hoje, o acordo ainda não entrou em vigor.