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26/05/2025 11:00:00

Comandante da Marinha indicado por Lula nega mobilização por golpe e enfraquece acusações

Comandante da Marinha indicado por Lula nega mobilização por golpe e enfraquece acusações

O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prestou um depoimento firme ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira (23), rebatendo de forma enfática qualquer alegação de envolvimento da Marinha em uma suposta tentativa de golpe de Estado no final de 2022. Sua declaração atinge diretamente a tese sustentada por setores do Judiciário e da imprensa de que haveria articulação militar para barrar a posse de Lula.

Durante audiência no processo que investiga uma possível conspiração envolvendo membros das Forças Armadas e figuras ligadas ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Olsen depôs como testemunha de defesa do ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, apontado como integrante do chamado “núcleo 1” da ação penal em trâmite no STF.

As acusações sugerem que Garnier teria colocado tropas da Marinha à disposição de Bolsonaro para viabilizar um decreto de estado de sítio ou a ativação de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o que teria como objetivo impedir a transição de governo. Questionado diretamente sobre o tema, Olsen foi categórico: “Em nenhum momento houve ordem, planejamento ou mobilização de veículos blindados para impedir os poderes constitucionais.”

À época dos supostos fatos, em 2022, Olsen exercia a função de chefe do Comando de Operações Navais, responsável pela movimentação estratégica de tropas e equipamentos. Seu relato desautoriza a versão de que houve movimentações anormais ou ordens fora da legalidade por parte de Garnier.

Olsen também negou ter recebido qualquer orientação ou sugestão para agir contra a posse de Lula. Segundo ele, não houve sequer conversas nesse sentido na alta cúpula da Marinha. “Não recebi ordens diretas, indiretas ou sinais de qualquer intenção de impedir o processo democrático. Todas as nossas ações seguiram rigorosamente os trâmites constitucionais”, afirmou.

O depoimento gerou forte repercussão política e jurídica. Por ter sido nomeado pelo atual governo e não manter vínculos com a gestão anterior, Olsen é visto como uma figura de credibilidade isenta. Seu testemunho contraria a narrativa de que haveria um plano militar coordenado para contestar o resultado das eleições de 2022.

O simbolismo de suas palavras se intensifica ao lembrar que Olsen assumiu o comando da Marinha já sob o atual governo, em uma cerimônia marcada pela ausência do ex-comandante Garnier. Desde então, ele tem se destacado por reafirmar o compromisso com a democracia e a hierarquia institucional, o que aumenta o peso de seu depoimento no contexto do julgamento.

Entre aliados de Bolsonaro, a fala de Olsen foi rapidamente interpretada como um elemento que reforça a tese de que não houve intenção de golpe por parte das Forças Armadas. Parlamentares da oposição celebraram o depoimento nas redes sociais, considerando-o um revés significativo para o centro das acusações.

“É um balde de água fria nos que tentam reescrever a história recente do Brasil com base em narrativas e ilações. O comandante da Marinha, indicado por Lula, foi claro: não houve golpe, nem tentativa de golpe, nem ordem de mobilização. Agora é hora de rever essas acusações injustas”, escreveu um deputado federal aliado de Bolsonaro.

Juristas que acompanham o caso, no entanto, alertam que, apesar da importância do depoimento, o processo ainda está em andamento, com outras oitivas previstas e análise de provas documentais. Mesmo assim, o relato de Olsen pode ter papel relevante na condução do julgamento, por questionar a solidez da tese de que um plano golpista estaria em curso.

A defesa de Garnier celebrou o episódio, afirmando que “a verdade começa a prevalecer” e que a Justiça precisa se basear em fatos, não em conjecturas ideológicas. O Ministério Público ainda não se pronunciou oficialmente sobre o impacto das declarações.

O episódio reacende discussões sobre a atuação das Forças Armadas no regime democrático e alimenta o debate em torno da politização do Judiciário em processos sensíveis. Enquanto isso, a sociedade observa com atenção os desdobramentos, na expectativa de julgamentos pautados pela transparência, imparcialidade e respeito ao devido processo legal.