No próximo domingo (25), o governo da Venezuela, comandado por Nicolás Maduro, realizará uma eleição para escolher um governador e oito deputados para o território de Essequibo, região rica em petróleo pertencente à Guiana e alvo de uma disputa territorial centenária. Também serão eleitos sete membros para o conselho legislativo regional, apesar de a Venezuela não exercer controle efetivo sobre a área.
A votação ocorrerá exclusivamente em território venezuelano, no estado de Bolívar, onde vivem pouco mais de 21,4 mil eleitores registrados no novo distrito eleitoral criado para essa finalidade. Nenhum morador de Essequibo poderá votar, já que a região continua sob administração da Guiana e é reconhecida internacionalmente como parte do território guianense.
A medida do regime chavista contraria apelos da Comunidade do Caribe (Caricom) e da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que instaram Caracas a não avançar com eleições para uma área que não controla. A CIJ é o órgão responsável por julgar a disputa entre os dois países.
Maduro, no entanto, declarou que a Venezuela está determinada a “recuperar seus direitos históricos e territoriais sobre a Guiana Essequiba” e ordenou um “controle rigoroso” nas fronteiras, com restrições ao tráfego de pessoas e veículos por terra, mar e ar durante o período eleitoral.
O presidente da Guiana, Irfaan Ali, reagiu reafirmando que seu país não abrirá mão do Essequibo. Ele advertiu que qualquer guianense que apoiar o pleito promovido por Caracas será acusado de traição. “Essa questão foi resolvida há muito tempo. Os venezuelanos só demonstraram interesse quando surgiram problemas internos e descobrimos o petróleo”, declarou.
Desde 2023, após um referendo nacional, o governo venezuelano passou a incluir o Essequibo em seus mapas oficiais. O candidato do chavismo para o novo cargo de governador é Neil Villamizar, ex-comandante da Marinha. A oposição será representada por Alexis Duarte, que decidiu concorrer mesmo com o apelo de María Corina Machado para que boicotasse a eleição.
O Conselho Eleitoral Nacional da Venezuela, responsável pela organização da votação, está com o site fora do ar desde julho de 2024, quando Maduro foi declarado vencedor das eleições presidenciais.
O conflito remonta ao Laudo Arbitral de Paris, de 1899, que concedeu o território à então Guiana Britânica. A Venezuela contestou o resultado em 1966, alegando que o julgamento foi manipulado e firmou o Acordo de Genebra com o Reino Unido. Com a independência da Guiana, a disputa foi interrompida, mas ressurgiu em 2023, impulsionada pelo início da exploração de petróleo na região pela empresa norte-americana ExxonMobil.
A descoberta de petróleo em 2015 e a perspectiva de produção de mais de 1 milhão de barris por dia até 2027 despertaram grande interesse internacional. Em 2022, graças à nova indústria petrolífera, a Guiana registrou o maior crescimento do PIB do mundo, com uma alta de 62% em relação ao ano anterior, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).