Cerca de 6 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam, na madrugada desta quinta-feira (22), um trecho da Estrada de Ferro Carajás, no município de Parauapebas, no Pará. A ferrovia, operada pela mineradora Vale, é fundamental para o transporte de minério extraído da região até o porto de Ponta Madeira, no Maranhão. A manifestação ocorre nas proximidades do acampamento Terra e Liberdade, considerado o maior do MST no estado, com 8.250 famílias cadastradas junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A principal demanda dos manifestantes é a regularização do acampamento, que, embora ainda não tenha sido oficialmente reconhecido como assentamento, já é produtivo, com cultivo de alimentos como milho, mandioca, frutas e hortaliças. Segundo a coordenação do movimento, a ocupação atual integra a “Jornada de Luta por Direitos e Reforma Agrária Popular” e não tem prazo para ser encerrada.
Além da demarcação de terras, o MST também reivindica a criação de novos assentamentos, vistorias fundiárias e a implementação de políticas públicas para famílias acampadas e assentadas. O movimento exige ainda que a Vale firme um acordo de cooperação com o Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para viabilizar investimentos sociais nas áreas rurais.
A mobilização repete o ato de dezembro de 2024, quando o MST bloqueou a mesma ferrovia para cobrar o pagamento da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) e outros tributos que, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), teriam sido sonegados pela mineradora. Segundo os manifestantes, a falta de retorno das autoridades motivou a retomada dos protestos.
A ferrovia, com extensão de 979 quilômetros, liga a Serra dos Carajás ao porto de São Luís e é utilizada principalmente para transporte de minério de ferro, além de cargas diversas como grãos, veículos e combustíveis. Também é rota de trem de passageiros, cuja circulação foi suspensa pela Vale nos trechos entre São Luís e Parauapebas, por motivos de segurança.
Em nota, a empresa informou que respeita o direito à manifestação, mas condena atos que impeçam o funcionamento das atividades empresariais e a livre circulação de pessoas. A Vale afirmou ainda que adotará as medidas legais para liberar a linha e reiterou seu compromisso com um Acordo de Cooperação Técnica firmado com o Incra em abril, destinado a contribuir com a regularização fundiária e a reforma agrária no estado.
O Incra, por sua vez, informou que acompanha a mobilização e realizará uma reunião nesta sexta-feira (23) para discutir a situação. A ocupação acontece também próxima ao assentamento Palmares, outro ponto estratégico nas reivindicações do MST na região. A ferrovia bloqueada é considerada uma via-chave para o escoamento da produção mineral da Vale, e sua interdição causa impactos diretos na logística e transporte da empresa.