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Acidente
22/05/2025 06:00:00

Banalização da biometria no Brasil aumenta risco de fraudes e preocupa especialistas

Banalização da biometria no Brasil aumenta risco de fraudes e preocupa especialistas

O uso da biometria facial tem se expandido rapidamente no Brasil, alcançando desde condomínios residenciais até estádios de futebol, bancos e operadoras de telefonia. No entanto, essa popularização crescente está acompanhada por um aumento expressivo nos casos de fraudes e pelo temor de vazamentos de dados sensíveis, o que levanta sérias preocupações sobre segurança digital e privacidade.

De acordo com levantamento da NordVPN, 82% dos brasileiros já utilizam alguma forma de biometria. O diretor de tecnologia da empresa, Marijus Briedis, afirma que essa adesão se deve à praticidade e à rapidez com que o sistema substitui senhas tradicionais. Ele observa, porém, que o entusiasmo pelo reconhecimento facial nem sempre é acompanhado por medidas de segurança adequadas. “A biometria pode oferecer uma falsa sensação de segurança. A proteção desses sistemas varia muito entre empresas”, alerta.

Com a promessa de oferecer mais controle e segurança, o reconhecimento facial será obrigatório a partir de junho de 2025 em estádios com mais de 20 mil lugares, como parte da política nacional de combate à violência e à revenda ilegal de ingressos. Ainda assim, os criminosos parecem ter avançado mais rápido que a regulamentação. Somente em janeiro deste ano, o número de tentativas de fraude subiu 41,6% em relação ao mesmo período de 2024, sendo que 44% envolveram autenticação biométrica e validação de documentos.

Casos recentes reforçam o alerta. Em Santa Catarina, ao menos 50 pessoas foram vítimas de golpe após um funcionário de uma empresa de telefonia usar dados faciais coletados indevidamente para abrir contas e contratar empréstimos. Já em Minas Gerais, criminosos se passaram por entregadores dos Correios para obter digitais e imagens de vítimas, aplicando golpes bancários.

O diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), Fabro Steibel, resume o cenário dizendo que “a biometria virou o novo CPF”. Ele vê com preocupação o ritmo acelerado de adoção da tecnologia, sobretudo sem garantias de proteção. “A tendência é que esses golpes aumentem, pois a biometria já está amplamente acessível aos golpistas”, afirma.

Para os usuários, o risco de exposição se torna ainda mais grave por um fator único da biometria: sua imutabilidade. Se uma senha for roubada, ela pode ser trocada; mas características faciais, digitais ou o padrão da íris não podem ser alterados. “Uma vez comprometidos, os dados biométricos geram riscos permanentes”, lembra Briedis.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) classifica essas informações como sensíveis, e violações podem resultar em multas de até R$ 50 milhões. Contudo, Steibel adverte que as penalizações também podem desestimular a transparência. “Empresas podem esconder vazamentos para evitar sanções”, observa.

Como alternativas mais seguras, ele cita sistemas sem biometria nem armazenamento de longo prazo, como os QR Codes descartáveis utilizados em condomínios na China. Outra proposta é ampliar o uso de notificações diretas sobre acessos sensíveis, especialmente via plataformas como o gov.br, para que os cidadãos saibam se há movimentações em seu nome.

Briedis orienta os usuários a serem seletivos ao fornecer seus dados biométricos, priorizando plataformas com políticas de privacidade claras, criptografia robusta e autenticação multifator (MFA). “Combinar biometria com uma senha ou chave de segurança é muito mais seguro do que confiar apenas em um único fator de autenticação”, conclui.

Enquanto a biometria avança como solução prática e acessível, especialistas alertam que seu uso indiscriminado e sem protocolos rígidos de proteção pode abrir novas brechas para crimes digitais cada vez mais sofisticados, exigindo cautela de empresas, autoridades e usuários.