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22/05/2025 05:00:00

Ufal amplia pesquisa em busca da cura da ELA e reforça protagonismo científico em Alagoas

Ufal amplia pesquisa em busca da cura da ELA e reforça protagonismo científico em Alagoas

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) está fortalecendo sua atuação no combate à Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa rara e ainda sem cura. No centro desse esforço está o Laboratório de Inovação Farmacológica (Laif), instalado desde 2019 no Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), que concentra suas atividades na descoberta de novos fármacos capazes de combater a enfermidade.

Coordenado pelo professor e doutor em Farmacologia Marcelo Duzzioni, o Laif utiliza uma abordagem avançada baseada em células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), derivadas de pacientes com ELA. Essas células são diferenciadas em neurônios motores, os mais afetados pela doença, permitindo o estudo aprofundado de processos celulares e a testagem de compostos que possam interferir positivamente na evolução da patologia.

O laboratório conta com o apoio da pesquisadora argentina Mariana Amorós, especialista em diferenciação celular, graças a uma parceria com a Fiocruz. Amorós aplica a técnica conhecida como molecular patterning, que simula o desenvolvimento de neurônios no corpo humano e possibilita a criação de culturas celulares complexas, como organoides e sistemas 3D, aproximando os testes laboratoriais das condições encontradas in vivo.

Atualmente, o Laif realiza a testagem de substâncias da sua própria base e de outros centros, incluindo um composto enviado por um laboratório da Universidade Federal de Pernambuco. Essa rede de colaboração científica vem sendo fortalecida por meio da publicação de artigos e participação em eventos como os congressos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

O laboratório também integra o “Projeto Mosaico”, liderado por Bernie Zipprich, que busca padronizar metodologias entre grupos de pesquisa de diferentes países, o que é crucial para alcançar resultados consistentes. No entanto, enfrenta desafios, como a demora de até oito meses na importação de reagentes e o acesso limitado a tecnologias de ponta, além da escassez de bolsas de pós-doutorado com duração suficiente para garantir avanços mais profundos.

O Laif também está ampliando sua atuação para além do desenvolvimento de medicamentos. A médica Patrícia Pereira Nunes, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS), conduz um levantamento epidemiológico inédito sobre os casos de ELA em Alagoas. Segundo Duzzioni, a subnotificação é um obstáculo, agravado pela ausência da doença na lista de notificação compulsória, o que dificulta a formulação de políticas públicas.

Outros estudos relevantes também fazem parte das atividades do laboratório. O médico e doutorando Yuri Toledo investiga a relação entre a ELA e a disbiose intestinal, enquanto a mestranda Raíssa Torres avalia a associação entre a doença e transtornos mentais, como ansiedade e depressão.

O Laif também conta com a contribuição ativa do médico Hemerson Casado, diagnosticado com ELA há 12 anos. Agora doutorando do PPGCS, Casado pesquisa o papel dos microRNAs na doença. Segundo Duzzioni, o grupo já publicou resultados que apontam para desregulações desses microRNAs, e o objetivo atual é desenvolver substâncias que possam modulá-los, com potencial terapêutico.

A criação do Laif teve como ponto de partida o engajamento de Casado na luta por políticas públicas voltadas à ELA. Após o primeiro contato entre ele e o professor Duzzioni em 2016, foram aprovados projetos importantes, entre eles um financiado pelo Ministério da Saúde em 2017. A partir de 2018, os recursos — cerca de R$ 2,2 milhões — permitiram a aquisição de equipamentos e insumos e a estruturação definitiva do laboratório.

A ELA se manifesta com a degeneração dos neurônios motores, comprometendo os movimentos voluntários e, progressivamente, levando à perda da fala, da locomoção, da respiração e da autonomia. A pessoa permanece consciente, mas torna-se prisioneira do próprio corpo. Em fases avançadas, a comunicação pode ocorrer apenas por códigos visuais, como o piscar dos olhos, ou por softwares de rastreamento ocular.

A equipe do Laif, formada por pesquisadores, estudantes e voluntários, segue determinada a transformar esse cenário, atuando com ciência, inovação e sensibilidade para ampliar o conhecimento sobre a ELA e, futuramente, encontrar sua cura.