Jorge, que não quis se identificar, viveu um drama íntimo após realizar três procedimentos estéticos no pênis com o objetivo de aumentar seu tamanho. A intervenção com polimetilmetacrilato (PMMA), uma substância acrílica de uso permanente no organismo, resultou em inflamações severas, dores crônicas, feridas e risco iminente de necrose. Após anos de complicações, ele precisou passar por duas cirurgias reconstrutivas para conter os danos causados pelo produto. “Meu corpo queria expulsar o PMMA”, relatou ele a imprensa.
A história de Jorge ilustra um fenômeno crescente no país: o avanço da chamada harmonização peniana, termo que populariza uma série de procedimentos voltados à modificação estética do órgão sexual masculino. Técnicas como aplicações de ácido hialurônico, lipoaspiração na região púbica e cirurgias de liberação de ligamentos vêm ganhando espaço entre homens que desejam aumentar o calibre ou a aparência do pênis, ainda que os riscos e limitações dessas intervenções sejam muitas vezes ignorados.
De promessas ilusórias ao boom moderno
Durante décadas, promessas sobre cremes, aparelhos ou métodos “milagrosos” para aumentar o pênis ocuparam anúncios em jornais e revistas. Hoje, com técnicas mais avançadas e influência das redes sociais, esses procedimentos ganharam um novo fôlego, ainda que a eficácia e segurança de muitos deles sejam debatidas pela comunidade médica.
O cirurgião plástico Flávio Rezende, que fundou uma clínica voltada à estética genital masculina, destaca que os avanços nas técnicas de preenchimento com ácido hialurônico — substância absorvível pelo corpo — são os mais seguros e comuns atualmente. Segundo ele, é possível obter ganhos de até 3 a 4 cm de circunferência, dependendo da técnica aplicada e da quantidade injetada.
No entanto, especialistas alertam que nenhuma dessas técnicas aumenta de fato o comprimento do pênis. As mudanças são visuais e temporárias, com necessidade de reaplicações a cada um ou dois anos. Além disso, existem riscos sérios, como necrose, embolia ou até perda total do órgão, principalmente quando os procedimentos são realizados por profissionais não capacitados.
Vaidade, dismorfia e saúde mental
Apesar do potencial de melhora da autoestima, muitos casos de insatisfação com o corpo estão associados à dismorfia corporal, um transtorno que faz com que o indivíduo tenha uma percepção distorcida de si mesmo. A psiquiatra Carmita Abdo, da Faculdade de Medicina da USP, alerta que alguns homens jamais se sentirão satisfeitos, mesmo após sucessivas intervenções, e correm o risco de causar danos irreversíveis à saúde genital e mental.
Para esses casos, o tratamento ideal começa com acompanhamento psicológico e não com intervenções estéticas. O pênis, explica Abdo, tem um valor simbólico muito forte para o homem — relacionado à virilidade, poder e identidade. Isso torna o tema cercado de tabus, vergonha e idealizações irreais, alimentadas muitas vezes por padrões pornográficos e pressão social.
Realidade clínica e cuidados fundamentais
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) destaca que o tamanho médio do pênis em ereção varia entre 13 e 14 cm, e que não há relação direta entre tamanho e desempenho sexual ou capacidade de proporcionar prazer. Inclusive, especialistas apontam que o prazer feminino, por exemplo, está concentrado nas regiões externas da genitália, tornando irrelevante o aumento peniano nesse contexto.
Os médicos também ressaltam a importância de se evitar automedicação ou aplicações clandestinas. As substâncias devem ser administradas com precisão milimétrica, entre camadas da pele que têm espessura de poucos milímetros. Um erro pode levar à falência do órgão, como em casos relatados em que homens perderam completamente o pênis após injetarem substâncias no corpo cavernoso ou no cordão espermático.
Mercado em ascensão e cuidados com promessas
A chamada harmonização peniana já é uma realidade consolidada no Brasil. Profissionais da área veem o crescimento da procura como parte de um movimento semelhante ao das próteses mamárias nas mulheres, e entendem que essa tendência tende a crescer. No entanto, o consenso é claro: procedimentos devem ser feitos com profissionais qualificados, com base em critérios técnicos, éticos e psicológicos bem definidos.
Jorge, que viveu na pele o limite entre a vaidade e o risco, deixa um recado: “Fujam das promessas fantasiosas. Conversem com quem importa e se informem de verdade antes de fazer qualquer coisa com seu corpo.”