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Economia
19/05/2025 06:00:00

Quem ganha e quem perde com a alta do preço do café

Quem ganha e quem perde com a alta do preço do café

Os eventos climáticos extremos, como a escassez de chuvas no Brasil e no Vietnã, além de novas exigências relacionadas à sustentabilidade, estão pressionando a cadeia produtiva do café, resultando em um aumento significativo nos preços. No entanto, essa dinâmica traz benefícios para alguns, enquanto prejudica outros.

Por trás de cada xícara de café, existe uma cadeia complexa que começa na lavoura e se estende até o supermercado ou a cafeteria. Diversos fatores contribuem para a alta dos preços, que vem sendo observada desde 2021. No Brasil, por exemplo, a inflação do café moído atingiu 80% nos últimos 12 meses, a maior elevação em três décadas.

A principal razão para essa alta está ligada à crise climática e a fenômenos como secas prolongadas, inundações, tempestades e furacões, que afetam as colheitas. Além disso, o aumento dos custos operacionais, o impacto do transporte, as incertezas do mercado e o crescimento da demanda também são fatores determinantes.

O Brasil é o maior produtor mundial de café, responsável por 35% da oferta global, seguido pelo Vietnã, que responde por 15%. Juntos, esses dois países são responsáveis por metade do café consumido globalmente. Outros produtores importantes incluem Indonésia, Colômbia, Honduras, Peru, Guatemala e México. De acordo com Jorge Mario Martínez, diretor da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a inflação no setor é resultado principalmente das condições climáticas adversas, com secas e calor no Brasil e Vietnã e chuvas intensas na Indonésia, que comprometeram a produção.

Em consequência, as exportações globais de café apresentaram uma queda. Em janeiro deste ano, houve uma redução de 14,2% em comparação ao mesmo período de 2024, segundo a Organização Internacional do Café (OIC), com destaque para a América do Sul.

Além do impacto climático, há ainda as tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos ao Vietnã, que chegam a 46%, criando instabilidade no mercado e dificultando o planejamento da produção.

O preço do café verde, em seu estado natural, subiu 38,8% em 2024 em relação ao ano anterior, de acordo com o indicador composto (I-CIP), amplamente utilizado pela indústria. Contudo, esse aumento não foi totalmente repassado ao consumidor final. Nos Estados Unidos, o preço ao consumidor subiu 6,6%, enquanto na União Europeia, o aumento foi de 3,8%.

Apesar da alta, a demanda por café continua em crescimento, mesmo após uma leve queda durante a pandemia. Isso se deve ao fato de que o consumo de café é considerado "inelástico" – os consumidores não estão dispostos a abandonar o hábito, graças à variedade de opções e preços.

Contudo, essa demanda crescente vem acompanhada de novas exigências, como práticas sustentáveis e o uso de fertilizantes orgânicos, o que aumenta os custos de produção. Jorge Utrilla, diretor do Instituto do Café de Chiapas (Incafech), destaca que o mercado europeu é mais atraente para os produtores que adotam práticas sustentáveis, pois paga melhor pela qualidade.

Na região de Chiapas, México, onde o café é cultivado à sombra, os produtores são beneficiados, pois essa técnica contribui para o controle da temperatura, a preservação do solo e a coexistência com a fauna e flora locais. Além disso, o aumento nas compras europeias é impulsionado pela antecipação à entrada em vigor da lei antidesmatamento, prevista para 2026.

Em meio a essa cadeia produtiva complexa, os maiores beneficiados são os produtores que conseguem vender o café a preços elevados. Uma libra (455 gramas) de café verde, cotada a 3,54 dólares em fevereiro – o maior valor em 50 anos –, pode render mais de 50 xícaras em cafeterias na Europa, onde cada xícara é vendida por mais de três euros.

Jorge Utrilla destaca que, para os produtores, este é um ano positivo, pois os preços elevados aumentam a lucratividade, permitindo investimentos em melhorias. Na Colômbia, por exemplo, o café ocupa quase 60% do território agrícola, e mais de meio milhão de famílias dependem da cultura. No entanto, a alta dos preços também traz desafios, pois a maior parte da produção é destinada à exportação, o que reduz a oferta no mercado interno.

No mercado internacional, o domínio está nas mãos de poucos intermediários que controlam grandes volumes do produto. Esses agentes conseguem aproveitar os altos preços, enquanto os pequenos produtores, especialmente os que não fazem parte de cooperativas ou associações, enfrentam dificuldades para competir.

Nos últimos meses, houve uma leve redução no indicador I-CIP, o que sugere um possível início de ajuste nos preços. As exportações, com exceção da América do Sul, apresentaram crescimento. De acordo com Jorge Mario Martínez, da Cepal, historicamente, após períodos de alta, os preços tendem a se estabilizar. No entanto, o cenário permanece incerto, e a volatilidade dos preços deve continuar devido às mudanças climáticas.

Por fim, a alta dos preços do café representa uma oportunidade para os produtores, mas também exige que o crescimento ocorra de maneira sustentável. É fundamental seguir boas práticas ambientais, garantir certificações orgânicas e promover o comércio justo, evitando que os preços se tornem proibitivos para o consumidor final.