Nos últimos meses, o Corinthians teve seu nome associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) após investigações da Polícia Federal (PF) revelarem um esquema de desvio de dinheiro envolvendo o contrato de patrocínio do clube com a empresa Vai de Bet. A PF concluiu que uma empresa fantasma intermediou o acordo e desviou R$ 1.074.150,00 para uma conta ligada ao grupo criminoso.
A investigação apontou que a Rede Social Media, empresa responsável por intermediar o contrato de patrocínio entre o Corinthians e a Vai de Bet, utilizou uma empresa fantasma para repassar o dinheiro à Football Talent Intermediação, identificada como braço financeiro do PCC no futebol. O caso gerou grande repercussão e afetou o ambiente político do clube, especialmente em um momento em que o presidente Augusto Melo enfrenta quatro pedidos de impeachment, um deles diretamente ligado ao escândalo.
O Caminho do Dinheiro e as Empresas Envolvidas
O Corinthians anunciou em janeiro de 2024 um acordo de patrocínio com a Vai de Bet no valor de R$ 360 milhões. No entanto, em junho do mesmo ano, a empresa rescindiu o contrato unilateralmente após surgirem denúncias de repasses irregulares. A investigação da PF identificou quatro empresas como parte do esquema:
Rede Social Media Design Ltda: pertencente a Alex Cassundé, que atuou na campanha presidencial de Augusto Melo e foi escolhida para intermediar o acordo. Recebeu dois depósitos de R$ 700 mil do Corinthians em março de 2024.
Neoway Soluções Integradas em Serviços e Soluções Ltda: recebeu parte dos valores transferidos pela Rede Social Media e foi usada como "laranja" para ocultar o destinatário final. A empresa está ligada a outros CNPJs suspeitos de integrar o grupo criminoso.
Wave Intermediações e Tecnologia Ltda: também classificada como empresa fantasma, foi responsável por movimentar R$ 13 milhões, repassando valores à Victory Trading, que por sua vez enviou recursos para a UJ Football Talent.
UJ Football Talent: identificada como o braço financeiro do PCC no futebol. Recebeu diretamente R$ 874.250,00 da Wave e mais R$ 200 mil da Neoway, em repasses realizados pela Victory Trading.
O Envolvimento do Corinthians
De acordo com o delegado Tiago Fernando Correia, responsável pelo inquérito, o Corinthians é considerado vítima do esquema. A investigação concluiu que o clube foi alvo de um furto qualificado praticado por uma organização criminosa que usou o nome da instituição para lavar dinheiro. Em nota, o Corinthians afirmou que "não tem responsabilidade por qualquer direcionamento de dinheiro que não esteja na conta bancária do clube".
No entanto, as suspeitas envolvendo os dirigentes permanecem, e o presidente Augusto Melo já prestou depoimento à PF em abril. Ele corre o risco de ser indiciado.
A Ligação da UJ Football com o PCC
A ligação da UJ Football com o PCC foi revelada por meio da delação premiada de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, que apontou Danilo Lima de Oliveira, conhecido como "Tripa", e Rafael Maeda Pires, o "Japa do PCC", como os principais responsáveis pela lavagem de dinheiro da facção no futebol. Segundo o delator, Tripa é sócio da Lion Soccer Sports e tem envolvimento com a UJ Football Talent.
Em nota, a UJ Football Talent negou qualquer relação com as empresas fantasmas e afirmou que seu proprietário não é alvo de investigação criminal. Da mesma forma, a Lion Sports negou que Tripa tenha qualquer participação na gestão da UJ Football e alegou que ele não está envolvido nos fatos sob investigação.