Um documento obtido pela Euronews revela que o governo de Israel considera a criação de uma nova entidade em Gaza, voltada para a reconstrução e desmilitarização do território, caso o grupo Hamas seja derrotado. O plano, intitulado "Gaza Security and Recovery Program, How Should The Day After Look Like" (Programa de Segurança e Recuperação de Gaza, Como o Dia Seguinte Deve Ser), foi desenvolvido pelo Fórum de Defesa e Segurança de Israel e pelo Jerusalem Center for Public Affairs, e apresenta uma estratégia para o "dia seguinte" após a queda do Hamas.
O documento, que conta com 32 páginas, propõe que a gestão inicial de Gaza seja realizada pelas Forças de Defesa de Israel (FDI), com foco na reconstrução econômica, desenvolvimento de infraestrutura e "reeducação" da sociedade local. O texto rejeita explicitamente a soberania palestina, a presença da Autoridade Palestina (AP) e o envolvimento da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) como provedora de ajuda humanitária.
A proposta também menciona o objetivo de "desnazificação" do Hamas, uma expressão usada para descrever o desmantelamento da ideologia do grupo. O documento afirma que "não menos grave é a ideia insensata de criar um Estado palestino em Gaza", deixando claro que o governo israelense não considera a possibilidade de um Estado soberano palestino na região.
Fontes do governo israelense, incluindo membros do Knesset do Partido Nacional Religioso, confirmaram à Euronews que o plano está entre as opções em consideração. Um alto funcionário governamental, que falou sob anonimato, ressaltou que a proposta faz parte dos cenários analisados, mas não é um plano finalizado. Segundo o parlamentar Simcha Rothman, os princípios do documento — eliminação do Hamas, exclusão da AP e da UNRWA — estão em consonância com a visão do governo israelense.
O plano prevê que as FDI liderem o processo inicial de reconstrução e administração em Gaza, estabelecendo novos mecanismos para a gestão de ajuda e desenvolvimento econômico. A estratégia também sugere que a sociedade de Gaza passe por um processo de "reeducação", o que tem gerado controvérsias.
As ações do governo israelense no início de maio indicam uma possível implementação desse plano. Em 5 de maio, as FDI receberam autorização para iniciar uma operação massiva de controle da Faixa de Gaza, acompanhada da mobilização de dezenas de milhares de reservistas. No mesmo dia, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que mais deslocamentos da população de Gaza seriam esperados como consequência das operações militares.
Até o momento, o gabinete de Netanyahu não se pronunciou oficialmente sobre o conteúdo do documento.