O Brasil registrou 47.747 homicídios em 2023, o menor número em 11 anos, de acordo com o Atlas da Violência 2025, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O índice corresponde a uma taxa de 21,2 homicídios por 100 mil habitantes, refletindo uma redução de 2,3% em comparação com o ano anterior.
Apesar da queda geral nos homicídios, a violência continua afetando principalmente os jovens. Em 2023, 21.856 jovens entre 15 e 29 anos foram assassinados, o que equivale a uma média de 60 mortes por dia. Desde 2013, foram 312.713 mortes nesta faixa etária, sendo 94% das vítimas do sexo masculino e 83,9% dos casos envolvendo armas de fogo.
O relatório também destaca o aumento nas notificações de agressões não letais contra crianças e adolescentes, que chegaram a 115.384 em 2023, uma alta de 36,2%. Entre crianças de 0 a 4 anos, a violência física registrou um aumento de 52,2%. O impacto psicológico dessas agressões é evidenciado pelo crescimento de 42,7% nas mortes por suicídio entre crianças e adolescentes entre 2013 e 2023.
Violência contra LGBTQIA+ e mulheres aumenta
A violência contra pessoas LGBTQIA+ cresceu expressivamente, com alta de 1.227% entre 2014 e 2023, passando de 1.157 para 15.360 casos. Mulheres trans foram as principais vítimas, com aumento de 1.110% nas agressões, seguidas por homens trans (1.607%) e travestis (2.340%).
As mulheres também foram impactadas, com um aumento de 2,5% no número de feminicídios, totalizando 3.903 vítimas em 2023. A violência doméstica continua sendo o principal contexto das agressões, ocorrendo em 64% dos casos, e as mulheres negras permanecem como o grupo mais afetado, representando 68,2% dos casos de violência letal.
Populações negras e indígenas sob risco
Embora tenha havido uma leve queda de 0,9% nos homicídios de pessoas negras, totalizando 35.213 mortes em 2023, essa população continua tendo 2,7 vezes mais chances de ser assassinada em comparação com pessoas não negras. Já os homicídios de indígenas registraram alta de 10,7%, passando de 205 para 227 casos, impulsionados por conflitos territoriais e feminicídios.
Desigualdades regionais persistem
Bahia (6.616), Rio de Janeiro (4.292), Pernambuco (3.697) e São Paulo (3.043) foram os estados com maior número absoluto de homicídios em 2023. No entanto, em termos proporcionais, o Amapá apresentou a maior taxa de homicídios, com 57,4 mortes por 100 mil habitantes, um aumento de 41,7% em relação a 2022 e de 88,2% comparado a 2013. A violência no estado é agravada por disputas entre facções pelo controle do porto de Santana e pela atuação da polícia.
Impactos sociais da violência
O Atlas da Violência reforça que as mortes violentas têm consequências que vão além das perdas humanas, afetando o desenvolvimento econômico, a educação e a inserção no mercado de trabalho, especialmente entre os jovens. Além disso, as desigualdades regionais e a persistência da violência contra grupos vulneráveis revelam um cenário desafiador para a segurança pública no Brasil.