O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta-feira (09/05) o fortalecimento das relações entre Brasil e Rússia durante um encontro com o presidente russo Vladimir Putin em Moscou. Lula participou do desfile militar que celebrou os 80 anos da vitória do exército soviético sobre a Alemanha nazista, evento que foi utilizado por Putin para demonstrar poder e contrariar o isolamento imposto pelo Ocidente devido ao conflito na Ucrânia.
Durante a reunião bilateral, Lula enfatizou a importância da parceria estratégica entre os dois países, destacando interesses políticos, comerciais, culturais e científico-tecnológicos compartilhados. "O Brasil tem interesses com a Rússia, e a Rússia tem muitos interesses com o Brasil", afirmou. Ele procurou contornar as críticas de que sua visita representaria um apoio implícito ao governo russo em meio à guerra.
Além de reforçar o relacionamento com a Rússia, Lula criticou a política tarifária do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusando-a de enfraquecer o multilateralismo e o livre comércio. Segundo o presidente brasileiro, as decisões unilaterais de Trump prejudicaram o respeito à soberania dos países e minaram a ideia de comércio livre.
O evento contou com a presença de líderes de outros países, como o chinês Xi Jinping, o venezuelano Nicolás Maduro e o cubano Miguel Díaz-Canel, além de representantes de regimes militares de Myanmar e Burkina Faso. Entre os países europeus, apenas a Eslováquia, com seu primeiro-ministro Robert Fico, enviou representante.
Lula também abordou o desequilíbrio na balança comercial entre Brasil e Rússia. Entre janeiro e março de 2025, o Brasil exportou para a Rússia produtos como soja, carne bovina e café, totalizando US$ 1,4 bilhão, enquanto importou US$ 10,9 bilhões em óleos combustíveis de petróleo, adubos e fertilizantes.
Oposição e críticas
A visita de Lula a Moscou gerou reações negativas entre políticos de oposição no Brasil. O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) afirmou que o presidente foi à Rússia "aplaudir as tropas russas que invadiram a Ucrânia". Representando o Paraná, estado com cerca de 500 mil descendentes de ucranianos, Moro considerou a conduta de Lula "ofensiva e vergonhosa".
O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer também criticou a viagem, apontando que a iniciativa desconsidera os princípios de direitos humanos previstos na Constituição brasileira. Em resposta, o Itamaraty argumentou que Lula busca promover uma "diplomacia ativa", colocando-se à disposição para ajudar em um acordo de paz.
A relação entre Lula e Putin vem gerando atritos desde que o petista reassumiu a presidência em 2023, com críticas de que o Brasil estaria se aproximando demais da Rússia em meio ao conflito na Ucrânia. O presidente ucraniano Volodimir Zelenski rejeitou uma tentativa de contato telefônico de Lula antes da viagem, afirmando que o Brasil não pode ser considerado um mediador devido à sua proximidade com o Kremlin.
Lula deve permanecer na Rússia até sábado (10), quando embarcará para Pequim, na China, onde participará da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).