A recente escalada de tensão entre Índia e Paquistão reacendeu preocupações internacionais sobre o risco de confronto entre duas potências nucleares com arsenais semelhantes, mas estratégias opostas de uso. Juntas, as duas nações somam 342 ogivas nucleares — 172 da Índia e 170 do Paquistão — e continuam a investir na modernização de seus armamentos. No entanto, o que torna o cenário ainda mais instável é o contraste entre suas doutrinas de dissuasão e a disparidade em seu poder militar convencional.
A Índia mantém uma política oficial de “não primeiro uso” (NFU, na sigla em inglês), comprometendo-se a usar armas nucleares apenas em resposta a um ataque. No entanto, autoridades indianas já indicaram que essa postura pode ser revista. O Paquistão, por outro lado, nunca aderiu ao NFU e mantém a possibilidade de realizar um ataque nuclear preventivo caso considere que sua segurança nacional está em risco.
Além do poderio nuclear, a diferença nas capacidades militares entre os dois países é evidente. A Índia possui um contingente de 1,24 milhão de soldados no Exército, 149 mil na Força Aérea e 75,5 mil na Marinha, além de uma Guarda Costeira com mais de 13 mil agentes. Em contraste, o Paquistão conta com um Exército de 560 mil militares, 70 mil na Força Aérea e uma Marinha com 30 mil integrantes.
Essa assimetria também se reflete na tecnologia de mísseis. A Índia opera o Agni-V, um míssil balístico intercontinental com alcance de até oito mil quilômetros, capaz de atingir alvos em qualquer ponto do território paquistanês e além. O Paquistão, por sua vez, desenvolve o Shaheen III, com alcance de 2,75 mil quilômetros, além do Nasr, um míssil de curto alcance (70 km) com capacidade nuclear, projetado para uso em campo de batalha.
A estratégia paquistanesa de apostar na imprevisibilidade da resposta atômica é uma forma de compensar sua inferioridade convencional frente à Índia. No entanto, essa doutrina é vista como arriscada por analistas, pois reduz o tempo de decisão em uma crise e aumenta as chances de erro de cálculo.
Segundo a revista Newsweek, a combinação entre arsenais poderosos, o desequilíbrio nas Forças Armadas e a ausência de confiança mútua entre os dois países cria um cenário altamente explosivo. Com mais de dois milhões de militares em serviço e centenas de ogivas nucleares operacionais, qualquer escalada de tensões entre Índia e Paquistão pode ultrapassar rapidamente o ponto de contenção diplomática, gerando consequências imprevisíveis para a segurança regional e global.