O delegado Victor Santos, Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, criticou o governo federal por não reconhecer o Comando Vermelho (CV) como uma “organização terrorista”. Segundo Santos, a administração federal ignora a realidade da violência no estado e se recusa a reconhecer a gravidade dos ataques promovidos pela facção criminosa.
“O governo federal não poderia falar sobre um assunto que talvez nem conheça, porque não conhece a realidade do Rio de Janeiro, porque não quer. A realidade do Rio é conhecida por todos aqueles que moram aqui”, declarou Santos, em uma coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (8), durante o anúncio da prisão de Celsinho da Vila Vintém, apontado como líder da facção Amigos dos Amigos (ADA) e suspeito de aliança com o CV para ampliar o domínio territorial na zona oeste do Rio.
O secretário afirmou que o Comando Vermelho opera com métodos semelhantes aos de “organizações terroristas internacionais” e que é a facção que mais confronta o Estado. “Nós vamos continuar defendendo, sim, que é uma organização criminosa transnacional e terrorista”, destacou.
O debate ocorre em meio a reuniões entre autoridades americanas e representantes do governo brasileiro em Brasília, com foco no combate a facções criminosas e em possíveis acordos de cooperação internacional. Em Washington, a administração do presidente Donald Trump tem pressionado para que grupos criminosos da América Latina sejam reconhecidos como “organizações terroristas”, incluindo a facção venezuelana Tren de Aragua.
No entanto, especialistas do Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil explicaram que a legislação brasileira não permite classificar grupos como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) como organizações terroristas, pois essa classificação requer motivação religiosa, étnica ou ideológica, critérios que não se aplicam diretamente a essas facções.
Apesar disso, o governo do Rio de Janeiro busca reconhecimento internacional para essa classificação. O secretário Victor Santos informou que um relatório elaborado pelos serviços de inteligência da Polícia Civil e da Polícia Militar será apresentado a autoridades americanas. O governador Cláudio Castro (PL) é um dos principais defensores da medida e deve entregar o relatório pessoalmente.
Se os Estados Unidos reconhecerem o Comando Vermelho como uma organização terrorista, o estado do Rio de Janeiro pode ter acesso a diversos benefícios, incluindo capacitação de agentes, acordos técnicos e bloqueio internacional de recursos financeiros ligados ao crime organizado. “Com um clique, o governo americano consegue bloquear o dinheiro onde quer que esteja, sob suspeita de ligação com uma organização criminosa e, principalmente, terrorista”, explicou Santos.
O delegado Felipe Curi, secretário de Polícia Civil, também presente na coletiva, reforçou a visão de que o CV atua com práticas de “narcoterrorismo”. Ele citou episódios em que criminosos dispararam indiscriminadamente contra mulheres grávidas, crianças e trabalhadores, além de instaurar tribunais do tráfico que julgam e executam pessoas em comunidades, impedindo o acesso de ambulâncias e serviços essenciais.
“Quem atira a esmo na direção de mulheres grávidas, crianças e trabalhadores para impedir uma operação policial… isso é o quê, senão narcoterrorismo? Quem impõe um tribunal do tráfico, julga e executa pessoas diante da comunidade, impede ambulâncias e coleta de lixo… isso é terrorismo”, afirmou Curi.
O secretário relembrou um episódio ocorrido em outubro do ano passado, quando criminosos ligados ao Complexo de Israel mataram três civis durante uma ofensiva contra a polícia. “O que aconteceu ali não foi confronto. Foi execução. Isso é narcoterrorismo”, concluiu.