Apesar da proibição em vigor, o consumo de cigarros eletrônicos continua se espalhando no Brasil, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. A comercialização, importação e propaganda desses dispositivos são proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que reafirmou a proibição em abril de 2024, mantendo a medida adotada desde 2009. Ainda assim, esses produtos são facilmente encontrados em lojas físicas, sites e redes sociais, alimentando um mercado paralelo em constante crescimento.
O avanço do uso de cigarros eletrônicos no país acompanha uma tendência mundial. Mais de cem países permitem a venda desses dispositivos, com regulamentações que controlam a composição dos produtos, restringem o acesso por idade e estabelecem regras claras para comercialização. Em locais como a Nova Zelândia, essa abordagem tem apresentado resultados positivos. Entre 2018 e 2023, a taxa de fumantes adultos no país caiu de 12,2% para 6,8%, graças à limitação de nicotina, embalagens com alertas e ações educativas.
No Brasil, onde os dispositivos são totalmente ilegais, o mercado clandestino cresceu de forma acelerada. Um estudo do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) apontou que o uso de cigarros eletrônicos aumentou 600% entre 2018 e 2023. Atualmente, cerca de 2,9 milhões de brasileiros fazem uso regular dos dispositivos, e mais de 6 milhões já os experimentaram. Sem controle de qualidade, muitos desses produtos têm origem desconhecida e podem conter altas concentrações de nicotina, aumentando o risco de dependência, especialmente entre os jovens.
Dados do IBGE, por meio da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, indicam que aproximadamente 16% dos jovens entre 13 e 17 anos e 21,4% dos que têm entre 18 e 24 anos já experimentaram os cigarros eletrônicos. O crescimento do consumo entre estudantes do 9º ano tem sido considerado alarmante.
Como tentativa de conter esse avanço, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, notificou, em abril de 2024, redes sociais e plataformas de comércio eletrônico como TikTok, YouTube, Instagram, Enjoei e Mercado Livre, exigindo a remoção de conteúdos que promovem ou vendem os produtos. As empresas tiveram 48 horas para cumprir a ordem, mas as ações ainda são consideradas insuficientes diante da dimensão do problema.
A aparência moderna dos dispositivos, a grande variedade de sabores e a intensa divulgação nas redes sociais têm impulsionado a popularidade dos cigarros eletrônicos entre os jovens. Estima-se que perfis de vendedores e influenciadores somem cerca de 1,5 milhão de seguidores, ampliando o alcance da propaganda.
Além da rápida dependência causada pela nicotina, o uso dos cigarros eletrônicos pode trazer sérias consequências à saúde. Estudos mostram que crianças e adolescentes que utilizam esses dispositivos têm maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, câncer e lesões pulmonares graves, como a EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de vaporizadores). Os aerossóis emitidos pelos dispositivos contêm substâncias tóxicas, incluindo metais pesados, e seus efeitos a longo prazo ainda estão sendo avaliados, mas já apontam para riscos significativos à saúde pública.