O Exército do Paquistão realizou neste sábado (3) o lançamento de um míssil superfície-superfície, intensificando o clima de tensão com a Índia. A crescente rivalidade entre as duas potências nucleares aumenta o receio de um possível confronto direto.
Conforme comunicado oficial, o teste envolveu o sistema de armas Abdali, com alcance de 450 quilômetros. O objetivo foi avaliar a prontidão das tropas e validar aspectos técnicos do míssil, como seu sistema de navegação avançado e capacidades de manobra. O local do teste não foi divulgado.
A ação ocorre após Nova Déli responsabilizar Islamabad por um atentado ocorrido em 22 de abril, na parte indiana da Caxemira, que deixou 26 civis mortos. Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque, e o Paquistão nega envolvimento.
O comandante do Exército paquistanês, general Syed Asim Munir, destacou a importância de manter vigilância e preparo em todas as frentes, diante do que chamou de “impasse atual”. Em resposta ao atentado, a Índia reforçou sanções econômicas, suspendeu os serviços postais com o Paquistão e bloqueou contas de figuras públicas paquistanesas em redes sociais, inclusive a do ex-primeiro-ministro.
Fontes militares indianas relataram trocas de tiros ao longo da Linha de Controle (LoC) pelo nono dia consecutivo. A LoC, com 770 km de extensão, divide a disputada região da Caxemira, de maioria muçulmana. Índia e Paquistão já travaram múltiplas guerras desde a independência do domínio britânico, em 1947.
O analista militar paquistanês Hassan Askari Rizvi afirmou que o lançamento do míssil serve como sinal de alerta: "É uma mensagem clara de que temos meios para responder à Índia, e também ao restante do mundo, mostrando que estamos preparados".
Na última terça-feira, o premiê indiano Narendra Modi autorizou uma resposta militar ao ataque de Pahalgam. Islamabad reagiu alegando ter informações sobre uma ofensiva indiana iminente. Durante exercícios militares em Punjab, fronteira com a Índia, Munir advertiu: "Qualquer aventura indiana será enfrentada com firmeza".
Como medida preventiva, o Paquistão ordenou o fechamento temporário de 1.100 escolas religiosas na Caxemira sob seu controle. Nas escolas públicas, iniciaram-se treinamentos de primeiros socorros.
Reações internacionais
O vice-presidente dos EUA, JD Vance, declarou à Fox News que Nova Déli deve agir com cautela, evitando uma escalada regional. Ele também apelou ao Paquistão para conter grupos extremistas que operam em seu território.
A China, por sua vez, pediu “moderação” às partes envolvidas. Apesar disso, as declarações inflamadas continuam. O chanceler indiano Subrahmanyam Jaishankar exigiu a responsabilização dos envolvidos no ataque de abril, enquanto o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif acusou a Índia de provocar e escalar o conflito.
A população da Caxemira, estimada em 15 milhões de pessoas entre os lados indiano e paquistanês, vive novamente sob o temor de um novo confronto armado. Em 2019, após um ataque a soldados indianos, Nova Déli bombardeou território paquistanês, resultando na captura de um piloto indiano — episódio encerrado por mediação dos Estados Unidos.
A Índia acusa o Paquistão de apoiar insurgentes que lutam pela independência ou anexação da Caxemira Indiana ao território paquistanês desde 1989. Islamabad nega as acusações e alega apoiar o direito à autodeterminação, denunciando ainda abusos de direitos humanos cometidos na região.