Uma pesquisa inédita realizada por pesquisadores da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) aponta que a curta distância entre os municípios de Arapiraca e Craíbas, separadas por apenas 17 quilômetros, está diretamente relacionada ao crescimento dos abalos sísmicos na região desde a instalação da mineradora Vale Verde, no povoado Serrote da Laje, zona rural de Craíbas, há quatro anos.
O estudo foi selecionado para apresentação no 15° Simpósio Nacional de Geomorfologia (SINAGEO), programado para agosto na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal. Intitulada “Sismicidade no Agreste Alagoano: entre falhas e interferências antrópicas no relevo dos municípios de Arapiraca e Craíbas”, a pesquisa foi desenvolvida pelos geógrafos Willian Macksuel Almeida Melo e Sandro Maciel dos Santos, do campus da Uneal em Arapiraca, e representa uma das mais relevantes investigações já feitas sobre o tema em Alagoas.
Inicialmente, o estudo concentrava-se nos tremores registrados apenas em Arapiraca, mas, com a frequência e a expansão dos fenômenos, os pesquisadores passaram a incluir Craíbas e municípios vizinhos. Conforme dados do Laboratório Sismológico da UFRN (LabSis/UFRN), desde 2020, mais de 80 tremores foram registrados em cada uma das duas cidades, um número elevado para uma região considerada de baixa atividade sísmica.
Os pesquisadores relacionam os eventos tanto a movimentações naturais de falhas geológicas quanto a interferências humanas, com destaque para a atuação da mineradora. Arapiraca está situada entre a Depressão Sertaneja e os Tabuleiros Costeiros, enquanto Craíbas está totalmente inserida na Depressão Sertaneja, uma área marcada por falhas geológicas e zonas de cisalhamento.
Com base em dados do LabSis e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), foram utilizadas ferramentas de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para mapear as ocorrências sísmicas e as áreas de mineração, especialmente nas regiões noroeste de Arapiraca e sudoeste de Craíbas. O resultado foi a constatação de que os tremores se concentram em áreas com falhas geológicas e próximas às operações de mineração, como explosões e rebaixamento do lençol freático. Segundo Willian Almeida, essa sobreposição espacial indica forte possibilidade de sismos induzidos por ações humanas, apesar da predisposição natural.
Para o pesquisador, o cenário reforça a necessidade de o poder público investir em monitoramento sísmico, ordenamento territorial e políticas de gestão de risco, principalmente em áreas urbanas, ainda que os abalos tenham baixa magnitude.
Empresa nega ligação com os tremores de terra
Mesmo com a aceitação da pesquisa em um dos principais eventos científicos da geomorfologia no país, a Mineração Vale Verde (MVV), localizada em Craíbas, nega qualquer relação entre suas atividades e os tremores registrados na região. A empresa afirma seguir rigorosamente a legislação ambiental brasileira e adotar práticas internacionais de ESG, com monitoramento ambiental contínuo.
Entretanto, desde o início das operações de extração de cobre em 2020, a mineradora tem sido alvo de diversas denúncias por parte da população local. Os moradores relatam rachaduras nas residências, tremores constantes e impactos socioambientais. Em março de 2024, a Defesa Civil Estadual e Municipal identificou um salto no número de imóveis com fissuras: de 50 para mais de 350, sendo mais de 100 casas condenadas, com risco iminente de desabamento.