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Obituário
02/05/2025 00:00:00

Morre Nana Caymmi, uma das vozes mais importantes do Brasil, aos 84 anos

Morre Nana Caymmi, uma das vozes mais importantes do Brasil, aos 84 anos

A cantora Nana Caymmi faleceu nesta quinta-feira (1º), aos 84 anos, em decorrência de complicações cardíacas. Ela estava internada há nove meses na Clínica São José, no Rio de Janeiro. A morte foi confirmada por seu irmão, o músico e compositor Danilo Caymmi. Em 2024, Nana havia passado por sérios problemas cardíacos, que resultaram na implantação de um marcapasso para tratar uma arritmia. Em 2015, ela também enfrentou um câncer de estômago.

Filha do compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu no Rio de Janeiro com o nome Dinahir Tostes Caymmi, homenageando uma tia paterna. Desde a infância, incentivada pelos pais, estudou piano clássico. Sua primeira gravação foi em 1960, ao lado do pai, com a canção de ninar “Acalanto”, feita especialmente para ela. No mesmo ano, lançou um compacto com “Adeus” e “Nossos Beijos”. Mais tarde, decidiu deixar o país para se casar com o médico venezuelano Gilberto José Aponte Paoli, com quem teve três filhos: Stella, Denise e João Gilberto.

Trajetória marcante na música brasileira

Nana Caymmi construiu uma carreira sólida interpretando clássicos de compositores como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Milton Nascimento e Roberto Carlos, sempre imprimindo identidade própria às canções. Também eternizou músicas do pai, como “O Que É Que a Baiana Tem” e “Saudade da Bahia”. Suas interpretações fizeram parte de trilhas sonoras de diversas novelas e minisséries da TV Globo, além de participações como atriz.

Em 1967, apresentou-se com Gilberto Gil no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record com a música “Bom Dia”, composta em parceria com o então marido. Gravou também com Os Mutantes a canção “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso. Em 1973, fez uma temporada de sucesso em Buenos Aires, lançando um disco pela gravadora Trova, com repertório de Tom Jobim, João Donato, Chico Buarque e Dorival Caymmi.

Durante os anos 1970 e 1980, lançou discos com repertório sofisticado e participações de grandes músicos como João Donato, Helio Delmiro, Toninho Horta, Novelli e os irmãos Dori e Danilo. Em 1980, participou da faixa “Sentinela”, no disco de Milton Nascimento. Nos anos 1990, gravou o álbum “Bolero”, totalmente dedicado ao gênero.

Mesmo com canções como “Mãos de Afeto”, “Beijo Partido”, “Contrato de Separação” e “De Volta ao Começo”, Nana não atingia a mesma popularidade de artistas como Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina, embora fosse reconhecida como uma das maiores vozes do país.

Reconhecimento popular e consagração com “Resposta ao Tempo”

O sucesso de massa veio em 1998, quando a canção “Resposta ao Tempo”, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhida como tema de abertura da minissérie “Hilda Furacão”, da TV Globo. A trama conquistou o público e alavancou ainda mais a visibilidade da cantora. Anos antes, quase teve o mesmo destaque com a canção “Vem Morena”, que havia sido selecionada para a abertura da novela “Tieta”. No entanto, a música foi trocada de última hora por uma composição animada escrita por Boni, interpretada por Luiz Caldas. Nana comentou, anos depois, com frustração o episódio.

Últimos projetos e despedida dos palcos

Em 2000, lançou “Sangra de Mi Alma”, segundo volume dedicado exclusivamente a boleros, com clássicos como “Amor de Mi Amores” e “Solamente Una Vez”, esta última presente na trilha da novela “Laços de Família”. Nos anos 2000, dedicou-se a homenagear a obra do pai em álbuns como “O Mar e o Tempo” (2002), “Para Caymmi: de Nana, Dori e Danilo” (2004), “Quem Inventou o Amor” (2007) e “Caymmi” (2013).

Seus dois últimos discos foram “Nana Caymmi Canta Tito Madi” (2019), com repertório do compositor pré-bossanovista, e “Nana, Tom, Vinicius” (2020), com músicas de seus dois grandes amigos. Seu último show foi em 2015, em São Paulo. Prometeu voltar a se apresentar ao vivo caso seu amigo Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo, se recuperasse de uma internação. Miranda faleceu em outubro de 2023. O Selo Sesc mantém um registro inédito do espetáculo “Resposta ao Tempo”, feito no Sesc Pompeia.

A última imagem pública de Nana aparece no documentário Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos, dirigido por Daniela Broitman, onde ela canta à capela “Não Tem Solução” e emociona com um depoimento sobre o pai. Em agosto de 2024, Nana participou da música “A Lua e Eu”, sucesso de Cassiano, relançada por Renato Brás com vocais captados em sua casa, no Rio.

Nana Caymmi deixa um legado inestimável à música brasileira, marcado por sensibilidade, sofisticação e uma voz que atravessou gerações.



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