Os Estados Unidos firmaram nesta quarta-feira (30/04) um acordo histórico com a Ucrânia para a exploração de minerais estratégicos no território ucraniano. A parceria, anunciada pelo Departamento do Tesouro dos EUA, visa contribuir com os esforços de reconstrução da Ucrânia no pós-guerra e representa uma guinada na política externa americana, reforçando a aliança com Kiev.
O acordo ocorre após o encontro entre o ex-presidente Donald Trump e o presidente ucraniano Volodmir Zelensky em Roma, durante o funeral do papa Francisco. Em declarações anteriores, Trump havia condicionado garantias de segurança à Ucrânia à formalização desse pacto. Segundo o governo dos EUA, o entendimento envia um “sinal à Rússia” de que Washington está comprometido com uma Ucrânia livre, soberana e próspera.
A vice-primeira-ministra e ministra da Economia da Ucrânia, Yulia Svyrydenko, viajou a Washington para assinar o acordo, que prevê a criação do Fundo de Investimento para a Reconstrução EUA-Ucrânia. Esse fundo financiará projetos voltados à exploração de minerais como grafite, lítio, titânio e elementos de terras raras — usados em tecnologias militares, baterias, eletrônicos e turbinas eólicas.
De acordo com Svyrydenko, o fundo será gerido de forma igualitária e não cria obrigações de dívida para a Ucrânia. As receitas serão divididas entre os dois países, e os recursos permanecerão sob controle do governo ucraniano, que decidirá onde e como explorá-los. Ela afirmou ainda que as contribuições e lucros do fundo estarão isentos de impostos em ambos os países.
Além da parceria econômica, o acordo prevê nova assistência militar dos EUA à Ucrânia, incluindo sistemas de defesa aérea. O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, reforçou que nenhum país ou pessoa ligada ao financiamento da guerra russa poderá se beneficiar da reconstrução ucraniana.
O pacto, que ainda precisa ser ratificado pelo parlamento ucraniano, demorou a ser fechado devido a impasses nas negociações, especialmente sobre governança, transparência e rastreabilidade dos fundos. Autoridades americanas criticaram tentativas de reabertura de cláusulas previamente acordadas, mas negaram mudanças substanciais no texto final.
Especialistas como William Taylor, ex-embaixador dos EUA na Ucrânia, classificaram o acordo como um “passo positivo”, que pode servir de modelo para futuros entendimentos de paz e para reforçar a presença estratégica americana na região. Segundo ele, a exploração dos minerais levará décadas, mas demonstra o compromisso de longo prazo dos EUA com a soberania ucraniana.
A Ucrânia abriga aproximadamente 5% dos materiais estratégicos do mundo, incluindo 19 milhões de toneladas de grafite e um terço de todas as reservas de lítio da Europa. Antes da guerra, o país também produzia 7% do titânio global. Contudo, cerca de US$ 350 bilhões em recursos naturais estão hoje em áreas ocupadas pela Rússia.
O presidente Trump destacou que os EUA estão em busca constante de terras raras, e que a Ucrânia possui um vasto potencial mineral. “Eles têm muitas delas, e fizemos um acordo para que possamos começar a cavar e fazer o que precisamos”, declarou. O acordo também se insere no contexto da crescente disputa com a China, que domina 90% da produção global de terras raras.