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Mundo
01/05/2025 14:00:00

Jornalista que desafiou censura russa morreu após tortura na prisão, aponta investigação

Jornalista que desafiou censura russa morreu após tortura na prisão, aponta investigação

Victoria Roshchyna, jornalista ucraniana de 27 anos, teve sua identidade finalmente confirmada meses após a entrega de seu corpo sem identificação, com marcas evidentes de tortura, durante uma troca de prisioneiros em fevereiro. A investigação conduzida pelo jornal The Guardian, com apoio de veículos parceiros, revelou detalhes chocantes sobre sua prisão, detenção e morte em território controlado pela Rússia. Seus restos mortais foram inicialmente registrados como “NM SPAS 757”, sigla que indica “não identificado” e “danos extensivos nas artérias coronárias”.

Roshchyna foi capturada em 2023, nas imediações da usina nuclear de Zaporizhzhya, após ganhar destaque internacional por sua atuação na cobertura da guerra da Ucrânia e por enfrentar abertamente a censura imposta pelo governo russo. Detida sem qualquer acusação formal e isolada de qualquer contato com advogados, ela conseguiu fazer apenas uma única ligação de quatro minutos para os pais ao longo de todo o tempo em que esteve encarcerada.

Os exames iniciais identificaram sinais de tortura severa, incluindo queimaduras nos pés causadas por choques elétricos, escoriações no quadril e na cabeça, fratura em uma costela e rompimento do osso hióide, uma característica comum em casos de estrangulamento. Várias partes do corpo, como cérebro, olhos e laringe, não estavam presentes quando os restos mortais foram devolvidos, o que dificultou a determinação oficial da causa da morte.

Testemunhos de mais de 50 sobreviventes e fontes ligadas à investigação reconstruíram o trajeto de Roshchyna após sua detenção em agosto de 2023. Inicialmente levada a centros de tortura em Melitopol, ela acabou transferida para o presídio Sizo 2, em Taganrog. Nesse local, sofreu abusos constantes, passou a recusar comida e teve seu peso reduzido a apenas 30 quilos. Um ex-prisioneiro relatou que ela “chegou já cheia de drogas desconhecidas”.

A jornalista deveria ter sido libertada em setembro de 2024, em mais uma rodada de troca de prisioneiros, mas desapareceu. De acordo com um agente de segurança, seu sumiço foi “culpa dela”. Pouco depois, a família foi notificada sobre sua morte, datada de 19 de setembro. O corpo, bastante deteriorado, foi identificado por meio de exame de DNA e uma etiqueta na perna com o nome “V.V. Roshchyna”.

Apesar das evidências apontarem para a identidade da jornalista, a confirmação oficial foi dificultada pela deterioração do corpo. Questionado, o diretor do presídio de Taganrog, Aleksandr Shtoda, declarou que Roshchyna “não está e nunca esteve listada nos bancos de dados”, enquanto o pai da repórter, ainda em busca de justiça, exige novos exames e explicações sobre as circunstâncias da morte da filha.

Antes de ser presa, Victoria Roshchyna havia enviado uma mensagem à cerimônia de entrega do prêmio da International Women’s Media Foundation, recusando-se a interromper seu trabalho para comparecer. Na ocasião, destacou o compromisso com a verdade e homenageou colegas que perderam a vida exercendo o jornalismo. “Nós permanecemos fiéis à nossa missão, de transmitir a verdade ao mundo, enfrentando a propaganda russa. Infelizmente, muitos jornalistas morreram. Quero dedicar este prêmio a eles. Afinal, eles morreram na luta pela verdade, tentando registrar os crimes russos. Agradeço a eles”, declarou Roshchyna em seu pronunciamento.



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